quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Abraços negros

O que me toca em Almodovar sao as imagens que se convertem em emoçoes....
As imagens, os plots, as personagens dos seus filmes roçam no meu intimo, despertando sensualidades, despertando dramas, pondo-me em ''pele de galinha''.
Para isso tambem muito contribuiu a musica calma e desesperada de Alberto Iglesias.
Cada vez que oiço as suas musicas iniciam-se em mim ideias, sentimentos, corre-me nas veias um fogo fatuo, uma mistura de criatividade e angustia.

Os Abraços Rotos contem um pouco dos dois mundos almodovarianos: o do humor negro e o do drama solitario.
Talvez por isso cause alguma estranheza.
Nao é um Pepi,Luci, Bom, mas tambem nao é o Má Educaçao....

O filme volta a estrelar Penelope Cruz, nesta vez num registo mais negro e sarcastico que o usual. Ao lembrar-me do filme, chego facilmente a conclusao que a sua personagem é quase mitologica, ela apenas existe nas memorias dos outros personagens, nas fotografias, nos fotogramas perdidos. E nisso ela remete-nos a uma Marylin Monroe, a qualquer diva da Setima arte....

Os movimentos sao captados de forma elegante, artistica e dramatica, eles remetem-nos sempre para uma emoçao subjacente.

É um filme muito simbolico. Arido, sombrio, negro, como ...Lanzarote.

Harry Caine / Mateo Blanco lembra muito os mitos de Quiron e Amfortas.

Amfortas é o rei do graal, que foi ferido pelo mago negro Klingsor com a lança de Longuinos que acabou por perder por se ter deixado cair na tentação da bela Kundri.
Klingsor depois de lhe tirar a lança santa feriu-o com a mesma. A chaga com que Amfortas ficou, nunca sarou e causava-lhe horríveis dores de tempos a tempos, só sendo curado quando o Graal lhe é entregue por um jovem messianico.


Quiron é tambem um mito grego que fala de um Deus que é ferido por uma flecha e mais tarde curado.

Harry é a ferida e a cura, o bloqueio e o potencial.

O final do filme é para mim a parte mais fraca, pois nao consegue conter a imensidao e riqueza do plot, sendo jogado numa historieta secundaria e sem significado.

Um filme a meditar com o tempo......

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