terça-feira, 27 de fevereiro de 2018

E quando a vida está a terminar

Hoje soube que uma conhecida minha vai ser transferida para os cuidados paliativos.
Tem um cancro avançado e tem progredido com os tratamentos de quimioterapia, além de ter piorado a qualidade de vida.

O que se sente quando se sabe que tudo está por um fio?
O que se faz quando isso acontece?
Que emoções brotam...que sonhos se esgotam?

Lembro-me dos olhos da minha Tó dois dias antes de morrer... havia naquele olhar uma tristeza e uma despedida.

O meu pai e a minha avó morreram subitamente... com eles não houve essa sensação do desvanecer.
Com o meu pai havia um prognóstico de dias que ele venceu e se transformou em meses de vida.

Mas e quando temos tanta vida e ela se vai esvaindo como o rio em direcção ao mar?



Obviamente que existe ou tem que a certo ponto haver raiva, tristeza e que vai ter que ser transformada em aceitação.

A impermanência da vida é uma certeza que rejeitamos, que nos ocultam, porque a nossa sociedade criou o Happy ending.

Os cristãos esperam o Céu, os Muçulmanos o paraiso, os budistas o nirvana, Hollywood o happy ending, Thomas Moore a utopia...

Gostamos de contar histórias de carochinha para vivenciar a vida.

Um casamento é para sempre ....já não... nunca foi.
Um amor, uma amizade, uma casa, uma rua, uma sociedade.... nada, nada é permanente.

E depois a vida, impermanente vai destruindo.

Lembro-me das palavras da minha querida mestra Maria Lisete Soares, que nos diz : 

´´A própria impermanência nos torna livres.´´

É um ensinamento muito duro. Aprender a ser impermanente.

Nem sempre é duro - quando dor ataca e depois cessa, é boa a impermanência.
Quando um casamento de sofrimento e tristeza cessa, é boa a impermanência.
Quando estamos a aturar uma pessoa e ela decide ir embora, é boa a impermanência.
Mas porque não aprendemos com o contrario??

Porque não aceitamos a libertar, a viver sem apegos, a ir com o vento?
A aceitar enfim, o que a vida no propõe.... ela enfim senhora da impermanência.



''Lembrar que estarei morto em breve é a ferramenta mais importante que já encontrei para me ajudar a tomar grandes decisões. Porque quase tudo - expectativas externas, orgulho, medo de passar vergonha ou falhar - caem diante da morte, deixando apenas o que é apenas importante. Não há razão para não seguir o seu coração.

Lembrar que você vai morrer é a melhor maneira que eu conheço para evitar a armadilha de pensar que você tem algo a perder. Você já está nu. Não há razão para não seguir seu coração.''

Steve Jobs

Um ano depois

Faz hoje um ano que voltei de Itália. Foram 25 dias muito intensos.  Fiquei alojado numa terra chamada Agrate Conturbia, que fica entre Milã...