sexta-feira, 1 de novembro de 2013

As religiões numa metáfora de Osho



Um homem caiu num poço. Foi no meio de uma multidão, na altura de um importante festival. Havia muito barulho, as pessoas estavam a divertir-se, a cantar e a dançar, por isso ninguém o ouviu cair. E nessa altura, na China, os poços não estavam protegidos por nenhum muro, estavam simplesmente abertos, sem nenhuma protecção.
O homem começa a gritar:
-Salvem-me!

Nessa altura passa por ali um monge budista. Claro que um monge budista não está interessado no festival, ou pelo menos não deveria estar interessado - não sei o que ele estava ali a fazer. O mero facto dele ali estar significa o desejo inconsciente de ver o que se está a passar, como as pessoas se estão a divertir: “Todas estas pessoas vão para o inferno, e eu sou o único, aqui, que vai para o céu.”
Ele passa pelo poço e ouve os gritos do homem. Olha para baixo. O homem diz:
- Ainda bem que me ouviu, estão todos ocupados e há tanto barulho, que julguei que ia morrer.
O monge budista diz:
- E vai morrer na mesma, porque isto está a acontecer por algum acto perverso que realizou numa vida passada. Agora está a ser castigado! É uma coisa boa, na próxima vida, começará do zero e não terá que cair novamente num poço.
O homem respondeu:
- Não preciso de sabedoria nem de filosofia neste momento…
Mas o monge já seguira o seu caminho.

A seguir aparece um velho taoista. Este tem sede e olha para o poço. O homem ainda grita, pedindo ajuda. O taoista diz:
- Essa atitude não é a de um homem. Devemos aceitar as coisas tal como elas acontecem.. foi o que disse o grande Lao-Tsé. Portanto aceite! Aprecie! Está a chorar como uma mulher. Seja um homem!
O homem respondeu:
- Não me importo que me chame mulher, mas primeiro, por favor salve-me!
Mas o taoista replicou:
- Não interferimos nos assuntos de ninguém. Acreditamos no individuo e na sua liberdade. Você foi livre de cair no poço e é livre de morrer no poço. Tudo o que posso fazer é dar-lhe uma sugestão: pode morrer a chorar ou a gritar, o pode morrer como um homem sábio. Aceite a situação, aprecie-a, cante uma canção e parta. Todos morremos, mais tarde ou mais cedo, porquê dar-me ao trabalho de o salvar. E seguiu o seu caminho…

Aparece então um confucionista e o homem fica com mais esperança, porque os confucionistas são mais mundanos, mais terra a terra, e diz:
- Que grande sorte a minha ter aparecido um sábio confucionista. Conheço-o, já ouvi o seu nome. Agora faça algo por mim, pois Confúcio diz: “ajudai os outros”
O monge confucionista diz:
- Tem razão e eu vou ajudá-lo. Irei de cidade em cidade, protestando até obrigar o governo a colocar um muro de protecção em volta dos poços. Pode ficar descansado.
O homem disse:
- Mas quando os muros de protecção forem erigidos e sua revolução for bem sucedidos, eu já estarei morto.
O confucionista respondeu:
- O senhor não importa, eu não importo, os indivíduos não importam, a sociedade é que importa. Levantou uma questão muito grande quando caiu nesse poço. Agora, nós vamos lutar por ela. Mantenha a calma. Trataremos que todos os poços tenham muro de protecção, para que ninguém volte a cair neles. Mas se eu o salvar apenas a si, o que ganharíamos? O país possui milhões de poços e milhões de pessoas podem cair neles. Portanto, não se preocupe consigo próprio, eleve-se acima dessa atitude egoísta. Você já fez um grande serviço quando caiu no poço. Eu vou prestar o meu, obrigando o governo a construir os muros.
E, dito isto, afastou-se..

O quarto homem era um missionário cristão, que trazia um saco. Abrindo-o imediatamente, retira dele uma corda a atira-a para o poço, antes mesmo de o homem dizer seja o que for. Este fica surpreendido e comenta:
- A sua religião parece ser a mais verdadeira.
O missionário responde:
- Claro. Estamos preparados para qualquer emergência. Sabendo que as pessoas podem cair nos poços, trago comigo esta corda para as salvar.. pois só ao Salvá-las posso Salvar-me a mim próprio. Mas estou preocupado, pois ouvi o que o confucionista lhe disse. Não deviam construir muros de protecção à volta dos poços, pois, nesse caso, como poderemos servir a humanidade? Como salvaremos as pessoas que caem? Primeiro têm de cair, só depois poderemos salvá-las. Existimos para servir, mas a oportunidade tem de estar presente. Sem a oportunidade, como poderemos servir?

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