Um homem caiu num poço. Foi no meio de uma multidão, na altura de um importante festival. Havia muito barulho, as pessoas estavam a divertir-se, a cantar e a dançar, por isso ninguém o ouviu cair. E nessa altura, na China, os poços não estavam protegidos por nenhum muro, estavam simplesmente abertos, sem nenhuma protecção.
O homem começa a gritar:
-Salvem-me!
Nessa altura passa por ali um monge budista. Claro que um monge budista não está interessado no festival, ou pelo menos não deveria estar interessado - não sei o que ele estava ali a fazer. O mero facto dele ali estar significa o desejo inconsciente de ver o que se está a passar, como as pessoas se estão a divertir: “Todas estas pessoas vão para o inferno, e eu sou o único, aqui, que vai para o céu.”
Ele passa pelo poço e ouve os gritos do homem. Olha para baixo. O homem diz:
- Ainda bem que me ouviu, estão todos ocupados e há tanto barulho, que julguei que ia morrer.
O monge budista diz:
- E vai morrer na mesma, porque isto está a acontecer por algum acto perverso que realizou numa vida passada. Agora está a ser castigado! É uma coisa boa, na próxima vida, começará do zero e não terá que cair novamente num poço.
O homem respondeu:
- Não preciso de sabedoria nem de filosofia neste momento…
Mas o monge já seguira o seu caminho.
A seguir aparece um velho taoista. Este tem sede e olha para o poço. O homem ainda grita, pedindo ajuda. O taoista diz:
- Essa atitude não é a de um homem. Devemos aceitar as coisas tal como elas acontecem.. foi o que disse o grande Lao-Tsé. Portanto aceite! Aprecie! Está a chorar como uma mulher. Seja um homem!
O homem respondeu:
- Não me importo que me chame mulher, mas primeiro, por favor salve-me!
Mas o taoista replicou:
- Não interferimos nos assuntos de ninguém. Acreditamos no individuo e na sua liberdade. Você foi livre de cair no poço e é livre de morrer no poço. Tudo o que posso fazer é dar-lhe uma sugestão: pode morrer a chorar ou a gritar, o pode morrer como um homem sábio. Aceite a situação, aprecie-a, cante uma canção e parta. Todos morremos, mais tarde ou mais cedo, porquê dar-me ao trabalho de o salvar. E seguiu o seu caminho…
Aparece então um confucionista e o homem fica com mais esperança, porque os confucionistas são mais mundanos, mais terra a terra, e diz:
- Que grande sorte a minha ter aparecido um sábio confucionista. Conheço-o, já ouvi o seu nome. Agora faça algo por mim, pois Confúcio diz: “ajudai os outros”
O monge confucionista diz:
- Tem razão e eu vou ajudá-lo. Irei de cidade em cidade, protestando até obrigar o governo a colocar um muro de protecção em volta dos poços. Pode ficar descansado.
O homem disse:
- Mas quando os muros de protecção forem erigidos e sua revolução for bem sucedidos, eu já estarei morto.
O confucionista respondeu:
- O senhor não importa, eu não importo, os indivíduos não importam, a sociedade é que importa. Levantou uma questão muito grande quando caiu nesse poço. Agora, nós vamos lutar por ela. Mantenha a calma. Trataremos que todos os poços tenham muro de protecção, para que ninguém volte a cair neles. Mas se eu o salvar apenas a si, o que ganharíamos? O país possui milhões de poços e milhões de pessoas podem cair neles. Portanto, não se preocupe consigo próprio, eleve-se acima dessa atitude egoísta. Você já fez um grande serviço quando caiu no poço. Eu vou prestar o meu, obrigando o governo a construir os muros.
E, dito isto, afastou-se..
O quarto homem era um missionário cristão, que trazia um saco. Abrindo-o imediatamente, retira dele uma corda a atira-a para o poço, antes mesmo de o homem dizer seja o que for. Este fica surpreendido e comenta:
- A sua religião parece ser a mais verdadeira.
O missionário responde:
- Claro. Estamos preparados para qualquer emergência. Sabendo que as pessoas podem cair nos poços, trago comigo esta corda para as salvar.. pois só ao Salvá-las posso Salvar-me a mim próprio. Mas estou preocupado, pois ouvi o que o confucionista lhe disse. Não deviam construir muros de protecção à volta dos poços, pois, nesse caso, como poderemos servir a humanidade? Como salvaremos as pessoas que caem? Primeiro têm de cair, só depois poderemos salvá-las. Existimos para servir, mas a oportunidade tem de estar presente. Sem a oportunidade, como poderemos servir?
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