sábado, 26 de dezembro de 2020

O Fogo Oculto




 Havia há muitos e muitos anos, numa pequena aldeia praticamente despovoada, um pai e um filho.
Ora um dia o Pai preparou uma pequena alforja e uma pequena lamparina e disse ao Filho :
- Preparei para ti um local novo. Um sitio bonito com muito mais pessoas, para poderes crescer e ter a tua vida. Levas aqui algum pão para o caminho, agua fresca da montanha, um pouco de carne seca e uma pequena lamparina com uma vela lá dentro. Sempre que precisares de mim, estarei contigo, e essa vela é o meu sinal.
O rapaz emocionou-se e seguiu caminho.
Ora ainda nao tinha andado mais de dez quilometros pela floresta quando a noite se fez. Com a capa agasalhou-se o mais que pode e fez dela uma cama. 
No entanto ao dormir, escutou milhares de sons estranhos e misteriosos. Escutou e teve medo.
- Ai meu pai ajuda-me.
Olhou para a pequena lamparina e teve uma ideia. 
Pegou nuns quantos paus secos e amontoou-os. Com um deles levou a vela na lamparina e rapidamente o pau ficou em chamas. 
Fez uma bela fogueira e com a luz da fogueira aqueceu-se e pode dormir mais descansado.
No dia seguinte voltou a caminhar cerca de vinte quilometros. 
Quando estava a montar uma especie de tenda ouviu um barulho e reparou num grande urso pardo. Por momentos todo ele tremeu.
-Meu pai me ajude, me proteja.
Não tinha nada que o protegesse do urso. Lembrou-se de por um pau e acende-lo na vela.
Ora quando o urso o sentiu veio na sua direcção. 
O rapaz ergueu o pau em chamas e o urso com medo afastou-se.
No terceiro dia era o dia em que chegaria a cidade.
Mas deu consigo no meio de uma vale de urzes secas e arbustos espinhosos.
Com um pouco de jeito cortou alguns mas acabou por ferir-se e eram imensos e faziam quase uma muralha.
Olhou a vela. 
Apenas uma pequeníssima chama se fazia.
Tão pequena e tão débil.
Pegou numa ramo bem fino e chegou-o a vela. 
Lentamente o pau foi queimando e ficou numa tocha.
Com a tocha queimou uma parte do caminho.
Finalmente chegou a cidade. Olhou a vela mas ja tinha queimado completamente.
Mesmo a entrada um idoso vendia velas. 
O jovem comprou uma vela e contou como aquela pequena vela lhe tinha ajudado durante todo o percurso. 
O idoso disse - Assim é Deus. Esconde-se nas coisas insignificantes para nos momentos dificeis o encontrarmos. Esperamos encontra-lo como um colo mas encontramo-lo primeiro como uma luz para mantermos o foco e derrotarmos o medo, como uma tocha para afastar o mal que vive dentro e fora de nós e quando finalmente percebemos que esteve sempre junto de nós torna-se um fogo para eliminar o que falta para chegarmos ao local esperado.




domingo, 20 de dezembro de 2020

Visão

 

Kathy Tyler e Joy Drake 

Acordei bem cedo esta noite. Eram perto das 6h40 e tinha a sensação que me batiam a janela. 
Penso que era algum radiador do hotel ou assim.
As 7h30 levantei me e despachei-me para deixar o hotel.
Resolvi retirar uma carta dos Anjos (site aqui)
Saiu-me a Visão. Nem pensei muito na carta...

Saio do hotel.
Vigo parece uma cidade adormecida apesar de já serem 8h20.
Uma cidade escura e vazia em contraste com a noite anterior, cheia de vida e cores das luzes de Natal.

Compro o bilhete de comboio para Portugal.
Desta vez fico do lado direito. 
Curioso, porque  fico sempre do lado esquerdo.
Do lado esquerdo podemos ver a ria....ao fundo Cangas, Moaña, mais um pouco a frente a ria espraia-se  numa especie de bela lagoa, com pequenas ilhas de arvores lembrando a Isle of the dead, do Rachmaninoff e das pinturas de Bocklin, depois a bela minha conhecida Redondela e pouco a pouco os velhos sitios que tão bem conheço, Porrino, Tui e Valença.

Mas ao ficar do lado esquerdo percebo que mudei de ''vista''. E de vista, de visão.

Do lado direito vou vendo depois Vila Praia de Ancora, com as suas ondas em caracol batendo ferozmente umas nas outras.

Mesmo no Porto quando mudo de comboio, calho do lado esquerdo. 
Espinho e a sua costa seduz-me.
Velhos casarões que nos trazem algo da mistica Sintra, o mar, e a praia enorme que espraia a luz do sol que vai nascendo.

Mudo de imagens ao longo do caminho até Lisboa.
Passam das 14h.
Eu pensava ir almoçar e afinal esqueço-me que esta tudo encerrado.
Tambem aqui a visão surge - Lisboa deserta como raras as vezes a vi.

Tenho que comprar algo e sento-me na praça do Rossio a almoçar.
Os pombos aglomeram-se a minha volta, sempre tendo em vista se deixo cair alguma migalha.
As gaivotas, tambem têm bom olho, e vão surgindo como generais, afastando os pombos, tentando tambem elas levar alguma coisa.

Já no autocarro para casa, reparo em como reparei em tanta coisa. Mas penso que a maior visão é interna.
Vejo uma mulher de aspecto duvidoso numa qualquer paragem de autocarro.
Uma parte de mim, automaticamente julga a mulher.
Mas depois mudo a visão.
Aceito que é um ser como eu, com uma historia de vida diferente, lidando com as ferramentas que a vida lhe deu, lidando da forma como aprendeu e sabe viver.

Rejuvenescem-se as formas. 
Todos podemos mudar. 
As vezes basta mudar um pouco o foco para onde olhamos.




quinta-feira, 3 de dezembro de 2020

Sonhos longinquos


 Estava algures na zona do Magrebe - Marrocos.

Havia um caminho que eu ia fazer. Um guerreiro/ viajante decidiu vir ajudar-me. Na cidade onde parti muitas pessoas me falavam.

A meio do caminho podia ver ao longe uma montanha enorme que eu de algum modo sabia que era o Ararat e instintivamente percebi que apenas era o inicio que havia mais caminho depois disso.

Passei por desertos gelados onde tivemos que nos esconder em tocas de cobras para sobreviver ao frio. Mas o guerreiro sempre me protegeu.

Acordei pouco depois.


Já ontem sonhei com um penhasco enorme em que ao fundo haviam aguas cristalinas e uma paisagem deslumbrante. Algo gibraltino.

Gosto destes sonhos de paisagens maravilhosas, especialmente agora que estamos tão confinados. Estes sonhos fazem-me sonhar.

25 de Abril

 Parece que Alzheimer invadiu a mente de grande de parte dos portugueses, tendo muitos repudiado o dia da Liberdade e aplaudindo ditadores e...