Durante o processo de domesticação, formámos uma imagem mental da perfeição com o fim de tratar de ser o suficientemente bons. Criamos uma imagem de como deveríamos ser para que os demais nos aceitassem. Tentamos comprazer especialmente às pessoas que nos amam, como pai e mãe, nossos irmãos e irmãs maiores, os sacerdotes e os professores. Ao tratar de sermos suficientemente bons para eles, criamos uma imagem de perfeição, mas não encaixamos nela. Criamos essa imagem, mas não é uma imagem real. Sob esse ponto de vista, nunca seremos perfeitos. Nunca!
Como não somos perfeitos, nos recusamos-nos a nós mesmos. O grau de rejeição depende do quão efetivos tenham sido os adultos para romper nossa integridade.
Depois da domesticação, já não se trata de que sejamos o suficientemente bons para os demais. Não somos o bastante bons para nós mesmos porque não encaixamos em nossa própria imagem de perfeição. Resulta-nos impossível perdoar-nos por não ser o que desejaríamos ser, ou melhor dito, por não ser quem achamos que deveríamos ser.
Não podemos nos perdoar por não ser perfeitos.
Sabemos que não somos o que achamos que deveríamos ser, de modo que nos sentimos falsos, frustrados e desonestos. Tentamos ocultar-nos e fingimos ser o que não somos. O resultado é um sentimento de falta de autenticidade e uma necessidade de utilizar máscaras sociais para evitar que os demais se dêem conta. Dá-nos muito medo que alguém descubra que não somos o que pretendemos ser. Também julgamos os demais segundo a nossa própria imagem da perfeição, e naturalmente não atingem as nossas expectativas.
Nos desonramos-nos a nós mesmos só para comprazer a outras pessoas. Inclusive chegamos a ferir o nosso corpo para que os demais nos aceitem. Vemos as adolescentes que se drogam com o único fim de não serem recusados por outros adolescentes. Não são conscientes de que o problema estriba em que não se aceitam a si mesmos. Recusam-se porque não são o que pretendem ser. Desejam ser de uma maneira determinada, mas não o são, e isto faz com que se sintam culpadas e envergonhados. Os seres humanos, nós castigamos-nos a nós mesmos sem cessar por não ser como achamos que deveríamos ser. Maltratamos-nos a nós mesmos e utilizamos as outras pessoas para que nos maltratem.
Mas ninguém nos maltrata mais que nós mesmos; o juiz, a Vítima e o sistema de crenças são os que nos levam a fazê-lo. É verdadeiro que algumas pessoas dizem que seu marido ou sua mulher, sua mãe ou seu pai as maltrataram, mas sabemos que nós nos maltratamos ainda mais. Nossa maneira de julgar-nos é a pior que existe.
Ninguém, em toda tua vida, te maltratou mais que Tu mesmo.
por Don Miguel Ruiz, em Os Quatro acordos
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