domingo, 23 de março de 2014

Reflexões internas


Darrell Bush - Reflecting on Golden Pond
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Por momentos pensei em anexar este texto ao video anterior. Creio que seria muito útil dedicarem 61 minutos ao video anterior, em que Krishnamurti fala sobre Lucidez.

Krishnamurti tem uma linguagem muito própria...linguagem desprovida de linguagem, de modo a que consigamos obter meia imagem e a outra meia através dos nossos meios não linguísticos, ou seja ele refere-se a uma realidade abstracta que não conseguimos transmitir ou vivenciar pelo uso da palavra, seja ela falada, escrita ou pensada.

Conceitos como lucidez, linguagem, liberdade, ausência de autoridade, ausência de passado, observar o medo, são tudo conceitos poderosamente abstratos que não podem ser resolvidos de modo linguístico, ou seja, quanto mais envolvemos a linguagem mais estamos a trabalhar filosoficamente e retoricamente mas não a fazer nada quanto a isso.

Reflicto sobre a ausencia de Autoridade. Todos buscamos autoridades ou fugimos das autoridades. A autoridade de um pai, de um médico, de um professor, de um herói, de um conselheiro. A autoridade de nós mesmos, do nosso passado, das nossas crenças. Krishnamurti diz algo interessante - temos 2 tipos de autoridade - externa e interna - externa a dos outros que devemos fugir - de que servem as crenças dos outros, nunca poderei descobrir ou indagar Deus através dos outros, então porque devo crer nas suas crenças?? E ao mesmo tempo a autoridade interna - a nossa - será que a minha autoridade é mesmo minha, ou reflecte o meu passado, os meus traumas, os meus medos, a minha infância, as minhas características biológicas e orgânicas ?

Depois ele diz-nos que tanto a autoridade interna como externa devem ser  afastadas, mas para isso a pessoa precisa de observar o medo. O medo ao ser analisado desvanece-se. Também o medo vive do passado. Todos os medos segundo ele são o mesmo em Unidade. O Medo é apenas um factor da mente e, e a mente não é o observador, não é em ultima instância a Consciência de Eu.

Para Krishnamurti a mente é algo como um instrumento que fomos adquirindo e fomos montando mas que apesar de util não nos devemos identificar com ela. O pensamento é sempre o resultado de outras autoridades - a da sociedade, a dos conceitos, a das vivências. Por isso a própria mente, mente!!

Ao perceber que o medo apenas vive na mente, que a mente é algo que temos que enfrentar, leva-nos ao conceito de tempo. O passado é o grande monstro. Segundo ele 99% do tempo oscilamos entre o passado e o futuro, dedicando apenas 1% ao presente.
Quando pensamos estamos no passado.
Quando olhamos para o futuro também estamos a fazê-lo por meio da mente que vive no passado.
Se toda a mente foi formada pelo passado, pela absorção de medos e autoridades, tudo isso leva a que 99% das nossas vidas são uma mentira, uma vez que vivem de projecções.

O passado continua vivo mesmo quando olhamos para o futuro. Não queremos algo mau do passado, queremos algumas coisas boas que vivemos ou nos incutiram no passado e desejamos para o futuro. Tudo em nós é passado.

A única parte verdadeira em nós, é a parte chamada consciência e essa infelizmente apenas ocupa 1% do nosso tempo.

Quando olhamos por um momento uma bela paisagem, sem fazer juízos de valor, sem pensar em nada, isso é o presente. Mal começamos a rotular, a pensar em algo do passado ou futuro, a comentar o que seja estamos já a contaminar o presente.
Por isso todos os conceitos que temos são inúteis. Porque???
Porque vêem dos outros, vêem de uma consciência mental nossa baseada noutras percepções, vêem de medos e temores, vêem do passado.
Só existe futuro ao iniciar uma vida nova. E só podemos viver assim ao indo ao âmago de nos mesmos e começando a ver a mente como um intruso que é, um mero bisturi que podemos usar e não como algo que somos.

Obviamente que se tudo isto continuar no nível linguístico, feito de palavras, palavras feitas de conceitos, conceitos de autoridades então voltamos a nos perdermos. Podemos até pensar que estamos livres e continuamos presos, talvez ainda mais presos.

O que concluir ?
Nada, apenas reflectir....

Ser como nada é essencial. Assim como um copo só é útil quando vazio, assim somente quando se é como nada, é possível receber a graça de Deus, a Verdade, o que você quiser.
Jiddu Krishnamurti



*imagem de Darrell Bush

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