sábado, 23 de abril de 2011


Os navios existem e existe o teu rosto 

encostado ao rosto dos navios.  
Sem nenhum destino flutuam nas cidades, 
partem no vento, regressam nos rios.

  

Na areia branca, onde o tempo começa, 

uma criança passa de costas para o mar. 
Anoitece. Não há dúvida, anoitece.  
É preciso partir, é preciso ficar.  



Os hospitais cobrem-se de cinza. 

Ondas de sombra quebram nas esquinas.
Amo-te....E entram pela janela
as primeiras luzes das colinas.


As palavras que te envio são interditas 

até, meu amor, pelo halo das searas;  
se alguma regressasse, nem já reconhecia 
o teu nome nas minhas curvas claras. 



Dói-me esta água, este ar que se respira,  

dói-me esta solidão de pedra escura, 
e estas mãos noturnas onde aperto  
os meus dias quebrados na cintura. 



E a noite cresce apaixonadamente. 

Nas suas margens nuas, desoladas,  
cada homem tem apenas para dar 
um horizonte de cidades bombardeadas. 


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