Temos tendência a rezar, a pedir, a esperar para que as coisas corram á nossa maneira, ou como esperançosamente desejamos.
Mas existe no entanto a necessidade de aceitar que as coisas podem não ocorrer como esperamos.
Até pode ser que corra da maneira que menos queremos.
Um doente pode piorar ou mesmo morrer.
Um relacionamento pode afundar e acabar, ou persistir e tornar-se apagado e de fachada.
Um desejo pode não se realizar.
Temos todos o desejo que algo se cumpra a nosso favor.
Caso contrário culpamos a vida, os outros, Deus e nós próprios.
Eu sei que custa. Custa e muito, doí e muito.
Doeu quando orei por alguém e aquela pessoa morreu na mesma.
Doeu quando esperei por algo que nunca veio.
Ou por uma coisa que aconteceu e não foi nada do que esperava.
Ás vezes olho as minhas cartas de Tarot.
As mais dolorosas são sempre a Morte, a Torre e o Pendurado.
Facilmente compreendemos a Morte, porque não queremos perdas, nem mudanças forçadas.
Compreendemos a Torre porque não queremos que nada desabe, que tenha que tentar de novo.
Mas o Pendurado, ou Enforcado, revela essa sensação de Entregar, Confiar, Esperar.
Obviamente que não digo que seja mau ter esperança.
Mas é necessário uma espécie de lucidez não emocional, ou não apenas da boca para fora tipo '' eu sei que pode correr mal''.
Tem que existir algo em nós que Aceite que nem sempre corre bem, nem sempre corre mal, e muitas vezes não acontece como esperamos.
Estes momentos efémeros de lucidez, um misto de aceitação do Agora, no entanto transmitem muita paz.
Hoje ao saber da morte de Nicolau Breyner por um momento pensei - a vida é isto.
E de repente percebi que existem 3 maneiras de aceitar ou não qualquer momento da vida.
- '' A vida vai correr bem, por muito mal que seja'' - visão super optimista, mas que muitas vezes não passa de uma máscara.
- ''A vida é uma treta, vai correr mal, tudo corre mal'' - visão pessimista, tenho muitas vezes laivos deste tipo de visão. É no entanto limitada, é um teatro porque dentro de nós estamos a rezar para que corra bem e ao mesmo tempo a treinarmos para o mal que acontecer.
e,
- '' A vida é o que é, fazemos o melhor que podemos, chorando e rindo , com o material que a vida nos deu''
Penso que esta deve ser a via.
Não deixamos que o emocional tape o racional, nem viceversa e ao mesmo tempo permitindo aceitar que há momentos bons e momentos maus e que devemos reagir a eles Apenas quando ocorrem.
Do mau evento, outros virão melhores e piores.
Então no momento de atravessar a ponte e ver o que nos espera do outro lado, talvez o melhor não seja pensar que vai correr bem ou vai correr mal, ou isto ou aquilo, mas não pensar.
Aproveitar cada momento,
Fazer a mudança a cada mês, a cada semana, a cada dia, a cada hora, a cada instante.
Tudo se resolve. Na maioria das vezes não como gostaríamos, mas como deve ser.Michelle Carvalho
''Contrariamente ao que se pensa, do ponto de vista espiritual, a desilusão em relação ao valor das coisas exteriores é excelente e, nesse sentido, o sofrimento e a perda são os nossos grandes amigos espirituais. Em vez de ficarmos amargos com as pessoas por não cumprirem as suas promessas e serem egoístas ou com as coisas por estarem sempre a mudar, devemos compreender que essa é a sua natureza, que não podemos esperar delas o que não nos podem dar e que, em última análise, não há ninguém a culpabilizar.Podemos aproveitar os espaços deixados pelas perdas para preenchê-los com objetivos tais como o crescimento interior de qualidades e emoções positivas, dedicando pelo menos uma parte do tempo que ficou disponível a uma prática espiritual. Assim afrouxamos o ego e tiramos partido da oportunidade que a vida nos ofereceu para amadurecermos e crescermos espiritualmente.''
Em “O hábito da felicidade”, de Tsering Paldron
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