sábado, 21 de junho de 2014

Um poema

''Será que dentro de nós habitam as pessoas do futuro,
seremos o nosso amanhã
ou será que em cada dia existe um de nós a viver ?

Quem tem a certeza que o mesmo que acorda é o mesmo que adormeceu?

Lentas, vagas e tonais passam as notas do tempo,
sob os reflexos de dias amargurados, sob desejos desesperados,
sob dias vencidos.
Dias passados por nada se passar, por dores inventadas outras paridas, algumas amaldiçoadas.

É por esse passar, que o passado se fez e o futuro se vai?
É por esse passar que a dor permanece.
Talvez a dor seja o tempo que passa.
Talvez a dor seja a verdade do que não se ilude com acontecimentos, livros, vidas ou paixões.

No fundo os deuses, e o mar, as férias e o sol,
o livro e filme sejam apenas isso.
Reflexos de um pensamento que tenta escapar a essa realidade inabitável chamada dor.

São 12h. Tocam os sinos a anunciar mais um dia.
Pássaros voam e carros apitam. As crianças saem para brincar, as pessoas para comprar, os grandes para mostrar, enfim tudo a teatralizar.
Que existe enfim dentro de nós?
Que é isto de existir?
Como é possível não falar da dor, não será ela mais real que o próprio amor?

Na dualidade da vida, acordamos com um copo de leite e adormecemos com uma garrafa de whisky.
Fugimos e vivemos na imensa solidão de uma dor existencial.
Desde o momento 1 ao momento 100 somos apenas isso.
Deambulamos nos lutos mundanos, profanamos a dor pensando em coisas sem fim.
Retrocedemos e pensamos, amarramos e choramos as dores que enfim criamos.

Se ao menos cada um,
se soubesse entregar a essa dor, poderia enfim perceber, que essa cor tem um tom.
Lento, vago, monótono e passageiro, longe, perto, cá dentro o estrangeiro,
por qualquer lirismo terei sempre como passageiro,
a dor intrínseca do açougueiro.



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