sexta-feira, 26 de julho de 2013

És o que És




- ´´Depreendo do que acabou de dizer que todos os seres trazem consigo, na sua essência, as linhas ou as directrizes para orientarem a vida de forma a que a sua missão, neste mundo, seja ela qual for, se cumpra, é isso?


— Sem dúvida, da mesma forma que a semente contém em si a árvore, na qual se irá transformar. Contudo, se para uma semente o terreno seco poderá ser aquele que permitirá que floresça, para outra poderá ser um terreno húmido. Se, para uma semente, a estação ideal para despontar poderá ser a Primavera, para outra, poderá ser o Verão. Se, para uma semente, o lugar ideal para nascer poderá ser a planície, para outra, poderá ser a montanha, ou o deserto, e aquilo em que cada uma dessas sementes se tornará um dia será sempre um mistério. Por isso, temos que ter sempre o cuidado de não impôr um modelo, pois corremos o risco de estar a dizer à semente de feijão que tem que se transformar em trigo, não respeitando o ritmo interno que já está codificado na sua essência e que irá conduzir aquele processo rumo ao destino que lhe compete manifestar, pois nem nós, nem ela, sabemos que tipo de semente ali se encontra.

» — Que possamos compreender que não existem dois caminhos iguais, nem nenhum livro ou palavras de algum mestre nos poderão falar desse caminho. Que a experiência do caminho percorrido por esse mestre seja um factor de profunda inspiração para nós, não para que o sigamos, mas para que encontremos em nós o nosso próprio caminho, da mesma forma que esse mestre encontrou o seu — ele fez uma pausa, ficando em silêncio enquanto olhava as pessoas presentes. Um silêncio profundo onde ele criava o espaço interno necessário para que a Alma se expressasse em cada uma das suas palavras. E logo continuou.


» — Se eu fosse colocado diante da Árvore da Vida e me fosse permitido desenhá-la, eu não poderia nunca impôr esse desenho como sendo essa mesma Árvore, nem os outros deveriam copiá-lo e apresentá-lo como tal. Se eu apresentasse o desenho dessa Árvore seria unicamente como fonte de inspiração, de forma a que cada um se sentisse capaz de pegar numa folha em branco, num lápis e, sentando-se diante dessa mesma árvore, começasse a fazer o seu próprio esboço. Este, sim, seria a Verdade e não a cópia que pudessem ter tirado daquele que eu fiz.


» — Por isso, para uns, acumular conhecimentos pode ser a experiência que necessitam para cumprir o seu propósito, para outros, será um fardo e um peso. Seja como for, na porta desse Templo Sagrado que nos habita, todos são iguais e os caminhos que nos levaram àquele lugar deixarão de existir. Sejamos nós sementes de feijão ou de trigo, ali, naquele lugar onde contactamos com a Presença do Ser, todos, sem exceção, desabrocharão sejam quais forem as suas histórias, as suas experiências, os caminhos trilhados.


» — Esse desabrochar, contudo, implicará sempre abrir mão de todas as expectativas, de todos os desejos, porque ali a semente de feijão, tornar-se-á mesmo na planta do feijão, mesmo que tenha desejado e construído na sua mente outras realidades. Esse esvaziar é na verdade um preenchimento. Um preenchimento pela Presença que em todos nós passará a Viver.


» — Por isso, como disse há pouco, estar neste mundo como a árvore, a erva rasteira, no ritmo e compasso do vento e do ondular suave das águas, é simplesmente dar espaço para que essa semente aconteça, no tempo certo do seu desabrochar, manifestando a sua essência e não a vontade de um desejo, de um método filosófico ou religioso, no qual nos cristalizámos e que nos tentou convencer que teríamos que ser forçosamente isto ou aquilo, que nos disse que, para que pudéssemos despertar, teríamos que seguir este ou aquele caminho... na verdade, não existem caminhos a trilhar, e este é o paradoxo, mas apenas o Ser que em nós habita e que um dia despontará soando a nota que lhe corresponde. E isso não se ensina, não se aprende, não tem fórmulas, processos, mecanismos... simplesmente É aquilo que sempre Foi.´´




In A Chave de Andromeda, de Pedro Elias

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