Gosto de apoiar a minha mão sobre o tronco de uma árvore quando passo diante dela, não para me certificar da presença da árvore – de que não duvido – mas da minha.
Christian Bobin, in La Présence Pure
Para Vincent Shigeto Oshida, conhecido mestre Zen e frade dominicano, falecido em 2003, todos os males da nossa civilização dita “avançada” decorrem do facto de termos perdido o contacto com a realidade concreta, em particular com a natureza, os seus ritmos e os seus limites.
Penso que Vincent Oshida tem razão em sublinhar a gravidade deste fenómeno cultural e sociológico enquanto ameaça séria da nossa civilização, ainda que, pessoalmente, o coloque a par de outros, igualmente preocupantes, como sejam a perda de valores de transcendência e de uma clara e intransponível referência ética comum.
Cada vez mais vivemos num mundo abstracto, um mundo de ideias com fraca aderência ao real, um mundo em construção cada vez mais virtual.
Num tal contexto, as oportunidades de contemplação e o tempo de ser tornam-se raras, a liberdade de opção pessoal sofre devido a opressões várias, o tempo futuro perde o seu sentido bíblico de construção esperançosa e regride à ideia pagã da fatalidade.
Por causa destes e doutros males, as pessoas que conhecemos no dia a dia dão sinais de grande fadiga e estão à vista indicadores de uma depressão colectiva cujas causas vão muito para além dos reais constrangimentos de ordem material, como por vezes se quer fazer crer.
Reflectindo sobre este mal de civilização, Christian Bobin escreve: “Como se reconhece que as pessoas estão fatigadas? Porque fazem coisas sem parar e assim tornam impossível que nelas entre um repouso, um silêncio, um amor? As pessoas stressadas fazem negócios, constroem casas, prosseguem numa carreira. É para fugir à fadiga que fazem todas estas coisas, mas fugindo dela, a ela se submetem. Falta tempo ao seu tempo … A vida falta às suas vidas.(in Une petite robe de fête).
in Fundação Betania, por Manuela Silva
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