Tentei uma última débil explicação e disse que toda a vida eu tinha
encontrado gente do tipo de meu pai, que, como ele, de alguma maneira,
me pegavam para os planos deles e que em geral me deixavam
pendurado.
— Você está reclamando — disse ele, baixinho. — Passou a vida toda
reclamando porque não assume a responsabilidade de suas decisões. Se
assumisse a responsabilidade pela idéia de seu pai de ir nadar às seis da
manhã, você teria nadado, sozinho, se necessário, ou lhe teria dito que
fosse para o diabo na primeira vez que ele abrisse a boca, depois de
conhecer as suas artimanhas. Mas você não disse nada. Portanto, era tão
fraco quanto seu pai. Assumir a responsabilidade de nossas decisões
significa que estamos prontos a morrer por elas.
— Espere, espere! — falei. — Você está distorcendo tudo.
Não me deixou terminar. Ia dizei-lhe que só tinha usado meu pai
como exemplo de uma maneira não realista de agir, e que ninguém, em
seu juízo perfeito, estaria disposto a morrer por uma coisa tão idiota.
— Não importa qual seja a decisão — disse ele. — Nada poderia ser
mais ou menos sério do que qualquer outra coisa. Não vê? Num mundo
em que a morte é o caçador, não há decisões pequenas ou grandes. Só há
decisões que tomamos diante de nossa morte inevitável.
Não pude dizer nada. Talvez uma hora se tenha passado. Dom Juan
estava perfeitamente imóvel em sua esteira, embora não estivesse
dormindo.
— Por que me diz tudo isso, Dom Juan? — perguntei. — Por que está me
fazendo isso?
— Você me procurou — disse ele. — Não, não foi assim, foi-me
trazido. E fiz um gesto para você.
— Como?
— Você podia ter feito um gesto para seu pai, nadando por ele, mas
não fez, talvez porque fosse muito criança. Já vivi mais do que você. Não
tenho nada pendente. Não há pressa em minha vida, de modo que posso
fazer um gesto por você.
extracto de Viagem a Ixtlan, de Carlos Castaneda
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