terça-feira, 11 de janeiro de 2011



O Aleph
William Blake costumava dizer: “podemos ver o infinito em um grão de areia, e a eternidade em uma flor”. Na verdade, basta um simples momento de harmonia interior para que isso aconteça.
O grande problema reside aí: quase nunca nos permitimos atingir este estado – o momento presente em toda a sua glória.
Às vezes, ele se apresenta de maneira completamente casual. Você está andando em uma rua, senta-se em determinado lugar, e de repente o universo inteiro está ali. A primeira coisa que surge é uma imensa vontade de chorar – não de tristeza nem de alegria, mas de emoção. Você sabe que está compreendendo algo, mesmo que não consiga explicar sequer para si mesmo.
Na tradição mágica, este tipo de percepção é conhecido como “mergulhar no Aleph”. O ser humano tem uma gigantesca dificuldade em concentrar-se no momento de agora; está sempre pensando no que fez, em como poderia ter feito melhor, quais as conseqüências dos seus atos, por que não agiu como devia ter agido. Ou então se preocupa com o futuro, o que vai fazer amanhã, que providências devem ser tomadas, qual o perigo que o espera na esquina, como evitar o que não deseja e como conseguir o que sempre sonhou.
Portanto, você começa a se perguntar; existe realmente algo errado?
Sim, existe. O nome disso é rotina. Você acha que existe porque está infeliz. Outras pessoas existem em função de seus problemas; vivem falando compulsivamente a respeito – problemas com filhos, maridos, escola, trabalho, amigos.
Não param para pensar: eu estou aqui. Sou resultado de tudo que aconteceu e acontecerá, mas estou aqui. Se existe algo errado que fiz, posso corrigir ou pelo menos pedir perdão. Se existe algo correto, isso me deixa mais feliz e conectado com o momento de agora.
Concentre-se em seu Aleph, e verá que um pouco de confiança na vida não faz nenhum mal – muito pelo contrário, irá lhe permitir experimentar tudo com muito mais intensidade. Essas coisas que perturbam seu verdadeiro encontro com a vida estão naquilo que você chama de “passado”, e aguardam uma decisão naquilo que você chama de “futuro”. Elas entorpecem, poluem, e não lhe deixam entender o presente. Trabalhar apenas com a experiência é repetir soluções velhas para problemas novos. Conheço muita gente que só consegue ter uma identidade própria quando começam a falar de seus problemas. Porque estes problemas estão ligados ao que julgam “sua história”.
O fundador da arte marcial conhecida como Aikido, Morihei Ueshiba dizia:
“A busca da paz é uma maneira de rezar, que termina gerando luz e calor. Esqueça um pouco de si mesmo, saiba que na luz está a sabedoria, e no calor reside a compaixão. Ao caminhar por este planeta, procure notar a verdadeira forma dos céus e da terra; isso é possível se você não se deixar paralisar pelo medo, e decidir que todos os seus gestos e atitudes corresponderão àquilo que você pensa.”
Se você confiar na vida, a vida confiará em você.

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