terça-feira, 6 de agosto de 2019

As minhas coisas secretas


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Todos temos coisas secretas. E não, não falo de segredos.
Falo daquilo que nos dá energia, que nos dá vida, que nos enche de entusiasmo, numa espécie de antecâmara do nirvana ou iluminação.

São aquelas coisas que gostamos de fazer mas que ninguém liga ou percebe.
Jogar pedras no rio, ouvir musica que gostamos muito e repetimos mil vezes, ou uma rua, um sitio, um jogo, ler um livro, etc o que seja, mas são as coisas que nos fazem bem.

O texto original que escrevi estará em baixo. Foi escrito em Paris, mais propriamente no Jardim do Kremlin Bicetre, num daqueles dias em que apesar de irmos fazer o que nos dá alegria, não podemos ou a correr.

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Ter estado lá.
Estar em Montmartre, na Avenue Rachel, junto ao túmulo da Dalida, na rua do Orchampt onde era a sua casa, junto a praça em sua honra foi algo que fez o meu coração pulular. 
Esta mulher cuja historia de vida, cujas canções me deliciam, estar perto onde tudo isso aconteceu, onde de alguma forma continua a acontecer, era importante para mim.
Esta semana, em especial este dia, poder estar ali e não poder estar Todo, estar consciente, estar entregue ao momento, e não poder perder tempo com as minhas coisas secretas foi difícil, muito difícil.
Vir para Paris para ir ver lojas é como ir a Roma e não ver o Papa.
Aquilo que nos energiza é aquilo que nos dá Identidade Interna.
Estas pequenas coisas prazeirosas que ajudam a definir a nossa identidade, os nossos gostos, as nossas paixões....
Esta pressa, este fechamento no Hotel, esta distancia do centro da cidade, o próprio desprezo pela cidade fere-me.
Não falo de ver monumentos emblemáticos, mas o viver, o sentir, enfim Emocionarmos-nos.
Não sei o que esperavam, que expectativas tinham, mas sei que as minhas foram goradas.
Estou aqui no Kremlin Bicetre, só, mas felizmente só.
Pelo menos sem pressão, sem pressas, sem suspiros, nem desapontamento, nem controlo.
Podem haver negros, ciganos, mulheres a gritar, enfim uma sensação de estarmos a beira da cova da moura, mas estou aqui.
Aqui totalmente.
Poder escrever, pensar, passear, andar livremente.
Sem haver o confinamento da minha pessoa.
Sem haver o confinamento de estar no local onde quero estar mas não posso....
Respiro.
Esta noite sonhei que tinha havido um desaparecimento.
De repente penso - E se o protagonista do sonho desaparecesse? Que livro, que filme, que história daria?
Seria o sonho uma visão sobre mim mesmo? ''

Ja passaram muitos dias depois disto ser escrito.
Hoje penso e repenso que cada um tem gostos diferentes.
Que visitar uma cidade enorme tentando satisfazer os gostos de um miudo de catorze anos que adora futebol, uma mãe cansada e que adora lojas, e eu que adoro ruas e museus não é facil!!
Nem justo para nenhum de nós.
Mas é com os erros que (devemos) aprender...

As nossas coisas secretas são aquilo que deviamos fazer todos os dias, a toda a hora.
Se não for possivel pelo menos uma vez por semana.
Haverá pessoas que gostem de partir o leite creme, outros que visitem ruas que nunca conheceram, etc.


''William Blake costumava dizer: “podemos ver o infinito em um grão de areia, e a eternidade em uma flor”. Na verdade, basta um simples momento de harmonia interior para que isso aconteça.

O grande problema reside aí: quase nunca nos permitimos atingir este estado – o momento presente em toda a sua glória.

Às vezes, ele se apresenta de maneira completamente casual. Você está andando em uma rua, senta-se em determinado lugar, e de repente o universo inteiro está ali. A primeira coisa que surge é uma imensa vontade de chorar – não de tristeza nem de alegria, mas de emoção. Você sabe que está compreendendo algo, mesmo que não consiga explicar sequer para si mesmo.

Na tradição mágica, este tipo de percepção é conhecido como “mergulhar no Aleph”. O ser humano tem uma gigantesca dificuldade em concentrar-se no momento de agora; está sempre pensando no que fez, em como poderia ter feito melhor, quais as conseqüências dos seus atos, por que não agiu como devia ter agido. Ou então se preocupa com o futuro, o que vai fazer amanhã, que providências devem ser tomadas, qual o perigo que o espera na esquina, como evitar o que não deseja e como conseguir o que sempre sonhou.

Portanto, você começa a se perguntar; existe realmente algo errado?

Sim, existe. O nome disso é rotina. Você acha que existe porque está infeliz. Outras pessoas existem em função de seus problemas; vivem falando compulsivamente a respeito – problemas com filhos, maridos, escola, trabalho, amigos.

Não param para pensar: eu estou aqui. Sou resultado de tudo que aconteceu e acontecerá, mas estou aqui. Se existe algo errado que fiz, posso corrigir ou pelo menos pedir perdão. Se existe algo correto, isso me deixa mais feliz e conectado com o momento de agora.

Concentre-se em seu Aleph, e verá que um pouco de confiança na vida não faz nenhum mal – muito pelo contrário, irá lhe permitir experimentar tudo com muito mais intensidade. Essas coisas que perturbam seu verdadeiro encontro com a vida estão naquilo que você chama de “passado”, e aguardam uma decisão naquilo que você chama de “futuro”. Elas entorpecem, poluem, e não lhe deixam entender o presente. Trabalhar apenas com a experiência é repetir soluções velhas para problemas novos. Conheço muita gente que só consegue ter uma identidade própria quando começam a falar de seus problemas. Porque estes problemas estão ligados ao que julgam “sua história”.

O fundador da arte marcial conhecida como Aikido, Morihei Ueshiba dizia:

“A busca da paz é uma maneira de rezar, que termina gerando luz e calor. Esqueça um pouco de si mesmo, saiba que na luz está a sabedoria, e no calor reside a compaixão. Ao caminhar por este planeta, procure notar a verdadeira forma dos céus e da terra; isso é possível se você não se deixar paralisar pelo medo, e decidir que todos os seus gestos e atitudes corresponderão àquilo que você pensa.”

Se você confiar na vida, a vida confiará em você.''

Paulo Coelho, in Aleph

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