Num bosque amarelo dois caminhos divergiam,
e lamentando não poder seguir os dois,
e sendo apenas um viajante, segui
um deles o mais longe que pude com o olhar,
até onde se perdia na mata.
Tomei o outro que me pareceu mais belo,
oferecendo talvez a vantagem
de uma relva que se podia pisar,
embora o estado de ambos fosse o mesmo
e naquela manhã eles fossem iguais.
Ambos estavam sob relvas
que nenhum passo enegrecera.
Oh, guardei o primeiro para outro dia!
mas como sabia que caminhos se sucedem a caminhos
duvidei que um dia voltasse.
Hei de contar isto suspirando,
daqui a muito tempo, nalgum lugar:
dois caminhos divergiam num bosque, e eu
segui o menos trilhado.
E isso fez toda a diferença.
Robert Frost
sexta-feira, 23 de agosto de 2019
sábado, 17 de agosto de 2019
quinta-feira, 15 de agosto de 2019
We are killing everything
Há muitos anos atrás, estava a conduzir o meu carro da costa leste até à costa oeste dos E.U.A., e vi um pássaro grande a morrer, a cair na terra, morto a tiro por um homem. Um cão apanhou-o para o homem que juntava os pássaros mortos para os negociar, para os vender para hoteis e restaurantes. Os seres humanos estão a matar em todos os sítios, em todo o mundo. A crueldade de todos os tipos está a disseminar-se. As igrejas e padres falam acerca do perdão como uma tradição rotineira. Pergunto-me se o homem viverá alguma vez em paz, com Divindade e Amor, sem matar. Porque é que o modo de viver do homem se tornou um inferno, um eterno conflito desde o nascimento até à morte, a ir e vir, fazendo dinheiro, a trabalhar sem parar com os seus turbilhões e árdua labuta. Esta luta pertence à área da psique, que criou esta sociedade monstruosa e a sua vulgaridade de “valores”.
O Amor desapareceu por completo! A mente e as suas recompensas tomaram o poder, com os seus prazeres, desejos, hipocrisia, ciúme, ódio e raiva. A morte de tudo isto; da mente, é na verdade o nascimento da Percepção Holística da Vida! Pergunto-me se o homem alguma vez mudará, mesmo se só uns poucos, muito muito poucos! Porque é que continuamos a inventar deuses, a hierarquia dos representantes de deus; e toda a impostura e vergonha de tudo isto.
O real nunca condiciona o cérebro, mas a teoria, a descrição, as abstracções condicionam-no. A mera posse de mobília não o condiciona, mas o investimento psicológico nela condicionará – tal como a Vida não condiciona mas o conceito de um deus condiciona, quer pertença aos hindús, aos muçulmanos ou aos cristãos, porque são projecções do pensamento, do medo, do prazer e por aí fora. O sentimento, a percepção de reverência não é um factor de condicionamento.
O sentimento global de todos os seres humanos e os seus inter-relacionamentos, só podem acontecer, quando as palavras “nações”, “tribos”, “religião” tiverem todas desaparecido. Os rios em qualquer sítio do mundo são somente rios. As identificações em conjunto com investimentos fomentam a divisão. Existe um enorme desenvolvimento no domínio tecnológico. Mas isto não pôs fim ao egoísmo, agressividade e competitividade do homem, indiferente a tudo.
Jai Vyassa – Jai Tagore
sexta-feira, 9 de agosto de 2019
''O Eterno é como um copo vazio. É a nossa mente/ego que o tenta preencher''.
Pensamento em Herbon, 2015
''A mente é desejo e vocês continuam se enchendo de mais e mais desejos, mais e mais ambições, buscando poder, prestígio e riqueza. E se esqueceram completamente que existe um coração batendo dentro, o qual já vive em Deus, o qual já é parte da lei maior – ais dhammo sanantano – aquilo que já é parte da inesgotável e eterna lei. Vocês já estão ligados a Deus a partir de seus corações. Seus corações são raízes no solo de Deus. Seus corações ainda são alimentados por Deus, pela verdade.
Mas vocês não estão ali. Vocês deixaram o local vazio. Vocês vivem na cabeça. Vocês passam todos os dias em suas cabeças; nunca descem de lá. Mesmo durante a noite, enquanto dormem, vocês continuam com o barulho na cabeca... Sonhos, sonhos e mais sonhos. Durante o dia, pensamentos, e durante a noite, sonhos. Eles não são diferentes.
Mas vocês não estão ali. Vocês deixaram o local vazio. Vocês vivem na cabeça. Vocês passam todos os dias em suas cabeças; nunca descem de lá. Mesmo durante a noite, enquanto dormem, vocês continuam com o barulho na cabeca... Sonhos, sonhos e mais sonhos. Durante o dia, pensamentos, e durante a noite, sonhos. Eles não são diferentes.
(...)
A mente nada mais é que desejos. O coração não conhece desejos. Você ficará surpreso ao saber que todos os desejos pertencem à cabeca. O coração vive no presente, ele pulsa e bate no aqui e agora. Ele nada conhece a respeito do passado e do futuro. Ele sempre está aqui e agora.quarta-feira, 7 de agosto de 2019
Ilusão e Deus
Em todo o Ser Humano existe um desejo, um ''rumor'' de Deus.
Alguns procuram-na nas diversas teologias, outros esquecem-no só se lembrando dele em horas de aflição, alguns negam-no, e uns poucos procuram mais além.
Sinto um rumor de Deus. Apresenta-se nas montanhas, nos lugares altos ou desérticos, no vento, no vazio.
Sei, sinto que existe uma espécie de brisa que destapa o véu do oculto, o véu da Eternidade que tapa a divindade do ser humano.
É como se aquilo que nos preenche, que nos dá vida e identidade, que nos completa e nos permeia estivesse por algum motivo, por algum mecanismo, completamente oculto de nós.
Como se ocasionalmente houvessem furos nessa cortina e a luz de Deus perfurando fizesse surgir na nossa realidade ténues sombras chinesas.
Será um gato? Um pássaro?
E cada ser interpreta essa formação da maneira que quer.
No fundo a alegoria da caverna de Platão!!
Deus surge quase sempre pelo Medo da Morte.
Viemos do nada, tememos o nada.
Talvez o Deus das nossas ansiedades não seja o Deus real!!!!
A maior parte da nossa vida é inconsciente.
Vivemos no pensamento, nas nostalgias, nos julgamentos, projecções e ansiedades, que consomem mais de 80% do nosso tempo. Se a isso adicionarmos o tempo que passamos a dormir teremos cerca 99% de inconsciência!!!
É como ser um barco de cruzeiro que anda num lago artificial extremamente pequeno e conciso quando o seu potencial é o mar, o oceano inteiro.
Assim sendo o Deus da inconsciência nunca pode ser o Deus real.
Como dizia Madame Blavatsky - ''A mente é o assassino do Real''.
Se a nossa fé é baseada na mente, e a ''mente mente'', como poderá a nossa fé ser real.
Tudo depende de alargar a nossa consciência consciente.
Passar dos 1% para 2%, depois 3%, 4% e com trabalho e sorte um dia 10%.
O Deus, a vida, o sonho, o desejo de esperar, de controlar tem de cessar.
A vida real existe, tudo mais é fruto da ilusão.
Além de vilas, burocracias, cidades, empregos e pensamentos, julgamentos e afazeres, existe algo puramente real. Bem mais real que toda a realidade que vivemos.
Hoje em dia transcendemos o irreal em mais irreal. Os nossos bisavós viviam no mundo irreal dos seus dogmas e conjecturas, os nossos pais quebraram dogmas mas tinham outros dogmas e viviam na mesma ilusão e conjecturas, e nós além dos dogmas e conjecturas criamos mundos irreais electrónicos onde projectamos em pura realidade a nossa realidade já irreal.
Se já vivíamos em ilusão o mundo da internet, das apps, da vila global, aumentou a irrealidade.
Mas não desanimemos.
Existe um pulsar interno, pulsar este que vem do divino.
Essa divindade real que mora em nós, após o véu da ilusão.
Para além do gelo de toda a ilusão, existe um mar puramente real, calmo, e abstractamente menos abstracto que todas as abstracções que permeiam a nossa vida ilusória.
terça-feira, 6 de agosto de 2019
As minhas coisas secretas
Todos temos coisas secretas. E não, não falo de segredos.
Falo daquilo que nos dá energia, que nos dá vida, que nos enche de entusiasmo, numa espécie de antecâmara do nirvana ou iluminação.
São aquelas coisas que gostamos de fazer mas que ninguém liga ou percebe.
Jogar pedras no rio, ouvir musica que gostamos muito e repetimos mil vezes, ou uma rua, um sitio, um jogo, ler um livro, etc o que seja, mas são as coisas que nos fazem bem.
O texto original que escrevi estará em baixo. Foi escrito em Paris, mais propriamente no Jardim do Kremlin Bicetre, num daqueles dias em que apesar de irmos fazer o que nos dá alegria, não podemos ou a correr.
''
Ter estado lá.
Estar em Montmartre, na Avenue Rachel, junto ao túmulo da Dalida, na rua do Orchampt onde era a sua casa, junto a praça em sua honra foi algo que fez o meu coração pulular.
Esta mulher cuja historia de vida, cujas canções me deliciam, estar perto onde tudo isso aconteceu, onde de alguma forma continua a acontecer, era importante para mim.
Esta semana, em especial este dia, poder estar ali e não poder estar Todo, estar consciente, estar entregue ao momento, e não poder perder tempo com as minhas coisas secretas foi difícil, muito difícil.
Vir para Paris para ir ver lojas é como ir a Roma e não ver o Papa.
Aquilo que nos energiza é aquilo que nos dá Identidade Interna.
Estas pequenas coisas prazeirosas que ajudam a definir a nossa identidade, os nossos gostos, as nossas paixões....
Esta pressa, este fechamento no Hotel, esta distancia do centro da cidade, o próprio desprezo pela cidade fere-me.
Não falo de ver monumentos emblemáticos, mas o viver, o sentir, enfim Emocionarmos-nos.
Não sei o que esperavam, que expectativas tinham, mas sei que as minhas foram goradas.
Estou aqui no Kremlin Bicetre, só, mas felizmente só.
Pelo menos sem pressão, sem pressas, sem suspiros, nem desapontamento, nem controlo.
Podem haver negros, ciganos, mulheres a gritar, enfim uma sensação de estarmos a beira da cova da moura, mas estou aqui.
Aqui totalmente.
Poder escrever, pensar, passear, andar livremente.
Sem haver o confinamento da minha pessoa.
Sem haver o confinamento de estar no local onde quero estar mas não posso....
Respiro.
Esta noite sonhei que tinha havido um desaparecimento.
De repente penso - E se o protagonista do sonho desaparecesse? Que livro, que filme, que história daria?
Seria o sonho uma visão sobre mim mesmo? ''
Ja passaram muitos dias depois disto ser escrito.
Hoje penso e repenso que cada um tem gostos diferentes.
Que visitar uma cidade enorme tentando satisfazer os gostos de um miudo de catorze anos que adora futebol, uma mãe cansada e que adora lojas, e eu que adoro ruas e museus não é facil!!
Nem justo para nenhum de nós.
Mas é com os erros que (devemos) aprender...
As nossas coisas secretas são aquilo que deviamos fazer todos os dias, a toda a hora.
Se não for possivel pelo menos uma vez por semana.
Haverá pessoas que gostem de partir o leite creme, outros que visitem ruas que nunca conheceram, etc.
''William Blake costumava dizer: “podemos ver o infinito em um grão de areia, e a eternidade em uma flor”. Na verdade, basta um simples momento de harmonia interior para que isso aconteça.
O grande problema reside aí: quase nunca nos permitimos atingir este estado – o momento presente em toda a sua glória.
Às vezes, ele se apresenta de maneira completamente casual. Você está andando em uma rua, senta-se em determinado lugar, e de repente o universo inteiro está ali. A primeira coisa que surge é uma imensa vontade de chorar – não de tristeza nem de alegria, mas de emoção. Você sabe que está compreendendo algo, mesmo que não consiga explicar sequer para si mesmo.
Na tradição mágica, este tipo de percepção é conhecido como “mergulhar no Aleph”. O ser humano tem uma gigantesca dificuldade em concentrar-se no momento de agora; está sempre pensando no que fez, em como poderia ter feito melhor, quais as conseqüências dos seus atos, por que não agiu como devia ter agido. Ou então se preocupa com o futuro, o que vai fazer amanhã, que providências devem ser tomadas, qual o perigo que o espera na esquina, como evitar o que não deseja e como conseguir o que sempre sonhou.
Portanto, você começa a se perguntar; existe realmente algo errado?
Sim, existe. O nome disso é rotina. Você acha que existe porque está infeliz. Outras pessoas existem em função de seus problemas; vivem falando compulsivamente a respeito – problemas com filhos, maridos, escola, trabalho, amigos.
Não param para pensar: eu estou aqui. Sou resultado de tudo que aconteceu e acontecerá, mas estou aqui. Se existe algo errado que fiz, posso corrigir ou pelo menos pedir perdão. Se existe algo correto, isso me deixa mais feliz e conectado com o momento de agora.
Concentre-se em seu Aleph, e verá que um pouco de confiança na vida não faz nenhum mal – muito pelo contrário, irá lhe permitir experimentar tudo com muito mais intensidade. Essas coisas que perturbam seu verdadeiro encontro com a vida estão naquilo que você chama de “passado”, e aguardam uma decisão naquilo que você chama de “futuro”. Elas entorpecem, poluem, e não lhe deixam entender o presente. Trabalhar apenas com a experiência é repetir soluções velhas para problemas novos. Conheço muita gente que só consegue ter uma identidade própria quando começam a falar de seus problemas. Porque estes problemas estão ligados ao que julgam “sua história”.
O fundador da arte marcial conhecida como Aikido, Morihei Ueshiba dizia:
“A busca da paz é uma maneira de rezar, que termina gerando luz e calor. Esqueça um pouco de si mesmo, saiba que na luz está a sabedoria, e no calor reside a compaixão. Ao caminhar por este planeta, procure notar a verdadeira forma dos céus e da terra; isso é possível se você não se deixar paralisar pelo medo, e decidir que todos os seus gestos e atitudes corresponderão àquilo que você pensa.”
Se você confiar na vida, a vida confiará em você.''
Paulo Coelho, in Aleph
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