sexta-feira, 26 de agosto de 2016

O que é um Guerreiro?



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O Guerreiro é assim chamado pela permanente luta contra as suas fraquezas e limitações pessoais; contra as forças que nos dirigem para o destino como homens e mulheres comuns, forças totalmente determinadas pela história pessoal e circunstâncias. O Guerreiro quer resgatar a possibilidade de escolher como ser e como viver. É uma batalha pela harmonia e pela tranquilidade. É uma batalha pela liberdade,  sabendo que esta batalha começa no interior, projectando-se daí para tudo o que constitui o mundo das acções. É uma luta calma, doce e alegre.
   O método do Guerreiro é uma forma de viver constantemente o desafio de Ser; escapa a uma definição exacta ou abrangente, A atitude de um guerreiro é uma noção, uma direcção, uma persistência na escolha do caminho mais forte e mais autêntico em cada acto. Talvez a característica mais notável seja a eterna busca de impecabilidade em cada acto, mesmo o mais pequeno. O guerreiro concebe a impecabilidade como dádiva do melhor de si em cada coisa que faz, o que implica uma optimização da sua energia individual. Mesmo quando as outras motivações se desfazem, o guerreiro persistirá numa actuação impecável, nem que seja apenas pela impecabilidade.
   (...) Levar a vida sóbria de um guerreiro dá a uma pessoa o equilíbrio e a fortaleza necessários para se lidar com momentos difíceis na trilha do conhecimento, independentemente da confusão suportada pela razão ou pelos danos causados pelo ego.
   Tudo o que fazemos pode ser feito à maneira de um guerreiro. Um guerreiro está sempre num inflexível estado de guerra total, não deixando espaço à negligência ou à rendição. Isto transforma o mais pequeno dos nossos actos num desafio de poderio que leva a que ultrapassemos os nossos limites, a sermos melhores, mais fortes, mais gentis, mais reais.
    De entre os elementos fundamentais postos à disposição de um guerreiro, podemos apontar a vontade enquanto força que emana do eu para tocar e sentir o mundo, até mesmo para o dirigir; uma força que terá de ser utilizada em lutas ainda maiores e mais intensas, que não nos atreveríamos a travar utilizando a nossa razão. Nesse momento, os guerreiros deixam de ser pessoas acorrentadas aos medos e fantasias do seu pensamento; prestam, então atenção aos seus sentimentos movidos pela sua força pessoal, essa energia substancial que, de uma tremenda batalha, tão demorada foi a aumentar e guardar.
    Os Guerreiros contam também com a consciência da sua morte iminente, executando cada acto como se fosse a última batalha e, por isso, a melhor. Com a morte como companheira constante a infundir força em cada acto, transformam em magia o seu tempo de seres viventes nesta Terra. A consciência da inevitabilidade da morte torna-os desinteressados e livres do acessório, sem que simultaneamente se entreguem à negação. Desligados de tudo, conscientes da brevidade da vida e em luta incessante, os guerreiros começam a harmonizar a vida através da força das suas decisões.  Cada instante é trabalhado de modo a adquirirem controlo sobre si mesmos, ganhando assim controlo sobre o seu mundo pessoal. Os guerreiros tomam a direcção da vida nas suas próprias mãos e dirigem-na estratégicamente. Cada pequena coisa é um aspecto da sua estratégia. De facto, controlo e estratégia são dois factores sempre presentes no modo como se movimentam pela vida.
    O controlo é o esforço para constante e propositadamente dirigirem os diferentes elementos que conforma as formas de ser e viver dos guerreiros. Aplicam-no a tudo quanto fazem pois as sua acções não resultam do acaso, de circunstâncias externas ou de explosões emocionais; fazem parte da estratégia da vida de um guerreiro. Nela não existe espaço para actos caprichosos, mecânicos ou impulsivos, pois os actos dos guerreiros não são  desligados, nem dispersos. As acções adaptam-se umas às outras de acordo com uma estratégia previamente planeada, que os guerreiros utilizam para atingir os objectivos a que se propuseram como expressão da sua mais intima predilecção.
     Os elementos que constituem a estratégias dos guerreiros são os elementos dos caminhos do coração, que lhes permitem obter prazer momento a momento. Através da utilização da vontade, do controlo, da estratégia e da consciência da morte iminente, os guerreiros aprendem a reduzir as suas necessidades a nada.  Apercebem-se que as necessidades engendram os desejos e a infelicidade. Assim, libertos da necessidade, não há ansiedades, nem preocupações. Os guerreiros podem actuar sem o peso da necessidade, da ansiedade ou da infelicidade. Quando deixam de sentir necessidades, deixam de sentir compulsão e, por isso, podem envolver-se até onde for preciso. Livres,  tudo quanto têm e recebem, mesmos as coisas mais pequenas e simples transformam-se em magnificas dádivas; e a vida, independentemente do quanto lhes é proporcionado, mantém-se em permanente estado de abundância.''

in Os Ensinamentos de Carlos Castañeda, por Victor Sanchez

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