''É muito fácil perder as aprendizagens quando mergulhamos no essencial. É o reencontro com a Liberdade que se torna inesquecível, não os milhares de artefactos e condicionamentos a que estamos sujeitos.''
Maria Lisete Soares
Ao longo da nossa vida temos tendência em confundir acessórios e ferramentas por posses importantes. Assim vamos comprando livros, dvds, colecções, utensílios, televisões, ferramentas, jogos, porcelanas, bugigangas, etc e tecemos uma espécie de relação com o objecto.
Imbuimo-los de uma carga simbólica que ele não tem, como se de algum modo certos objectos reflectissem quem somos.
Á mercê de uma qualquer crise temos tendência de a colmatar fazendo compras.
Quando queremos impressionar vestimos boas roupas, compramos bons carros, afinamos até as nossas linguas de palavras caras!
E depois quando o objecto se parte, quando o livro se perde, a foto arde, o carro estraga-se, perdemos a casa ou o modo de viver entramos em crise.
No fundo revestimos-nos de coisas sem valor, fazendo-as preciosas, mascarando que no fundo estamos vazios.
O que é o Essencial?
Obviamente que falamos em mais que objectos. A língua é um acessório, a maneira de falar com os outros, de viver a vida é um acessório.
Revestimos-nos de tantos maneirismos adornados por esses objectos, criando uma espécie de mascara que somos nós. Até que nos perdemos a nós mesmos.
De alguma forma tornamos-nos reféns dessa personagem que criamos.
Não nos mexemos para certa direcção se lá a relva tiver outra cor, se não houve o minimo de condições - dizemos nós.
Apegamo-nos a resultados, a objectos que compramos e voltamos a comprar. Tapamos carências em compras ou em livros, ou em relações.
Um dos recursos que uso para mergulhar no Essencial é fazer o Caminho de Santiago.
Levo pouca coisa. Ligo poucas vezes o telemóvel.
Começo sempre por me sentir desconfortável, só e de algum modo perdido.
Mas quando começamos a sentir a Liberdade que é não ter nada com nos preocuparmos, a apreciar o dia em todas as suas tonalidades, quando fazemos amizades sinceras, ai sentimos que é algo inesquecível.
Não foram as férias no Havai que devem ser óptimas, ou uma viagem que passamos por museus e sítios todos estipulados.
A Aventura, especialmente levando muito pouco, permite conhecermos-nos a nós mesmos.
A vida precisa desses apetrechos para funcionar, mas não devemos depender deles, nem mesmo usa-los para forjar uma identidade, porque apenas nos podemos conhecer no duro, perante nós mesmos, sendo puramente quem somos lá no fundo.
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