Desde o seu primeiro ensinamento, Buda tentou fazer-nos ver a realidade. A natureza do mundo é sofrimento, por isso é inútil esperar que a felicidade possa dele provir. Não são os objectos − todos
obtidos à custa de sofrimento − que nos podem dar felicidade.
Não são os fenómenos − todos efémeros e passageiros − que nos podem dar serenidade. Se queremos a felicidade, temos de apostar no próprio espírito, que é onde nasce todo o sofrimento e toda a felicidade. Foi essa a via que Buda ensinou.
A perspectiva da nossa sociedade sobre o sofrimento situa-se nos antípodas da que descrevemos. Ao apostar sobretudo nos bens materiais como fontes de bem-estar e objectivos de vida, ela aponta para uma definição muito pobre de felicidade, limitando-a ao usufruto de condições de vida agradáveis.
Como o sofrimento é um obstáculo directo a esse usufruto, gera-se a noção de que, perante o
sofrimento, a vida deixa de ter sentido e não vale a pena ser vivida.
Como crianças que o medo do Papão paralisa, também nós nos encolhemos diante do espectro da dor. Nossa ancestral inimiga, logo que chega, extingue risos e abre as portas de um quarto escuro onde nos fechamos a nós próprios. O seu nome faz-nos estremecer e qualquer ameaça do seu aparecimento provoca uma fuga imediata.
sofrimento, a vida deixa de ter sentido e não vale a pena ser vivida.
Como crianças que o medo do Papão paralisa, também nós nos encolhemos diante do espectro da dor. Nossa ancestral inimiga, logo que chega, extingue risos e abre as portas de um quarto escuro onde nos fechamos a nós próprios. O seu nome faz-nos estremecer e qualquer ameaça do seu aparecimento provoca uma fuga imediata.
O nosso receio é tal que a tornámos num dos grandes tabus do mundo moderno.
Na nossa pressa de lhe escapar − mergulhando na aspirina ou no antidepressivo − nunca lhe vemos a face, a não ser quando nem estes paliativos são capazes de a conter. Talvez por isso, não é raro que os momentos de maior sofrimento sejam também os mais ricos em tomadas de consciência. Esta constatação poderá indicar que, contrariamente ao que pensamos, o sofrimento pode ter um efeito
muito salutar e um papel muito importante na nossa vida.''
Na nossa pressa de lhe escapar − mergulhando na aspirina ou no antidepressivo − nunca lhe vemos a face, a não ser quando nem estes paliativos são capazes de a conter. Talvez por isso, não é raro que os momentos de maior sofrimento sejam também os mais ricos em tomadas de consciência. Esta constatação poderá indicar que, contrariamente ao que pensamos, o sofrimento pode ter um efeito
muito salutar e um papel muito importante na nossa vida.''
Tsering Paldron, in A Alquimia da Dor
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