sábado, 7 de março de 2015

Economia e Consumismo


A maioria de nós vive numa sociedade que é orientada por uma forma muito particular de economia – baseada no aumento do consumo e no crescimento sem limites. Embora quase nunca seja contestada (muito menos por aqueles que nos governam), essa economia está fundamentada numa proposta bem específica (que porém, falha). Apesar de parecer oferecer satisfação, isso nunca será alcançado. A proposta somente funciona se, enquanto acreditando que “a próxima aquisição” irá satisfazer as nossas necessidades e fazendo essa compra, continuarmos insatisfeitos e, uma vez mais, necessitados. Apesar da promessa de satisfação, para o sistema funcionar é como se devêssemos sentir que necessitamos sempre de mais.

O elo entre essa forma de economia, a escassez dos recursos, o aquecimento global e a mudança climática parece ser autoevidente, mas ainda existem aqueles que sugerem que é possível desassociá-los; que por detrás dos engenhos e das inovações tecnológicas, a economia pode continuar a crescer e a aumentar os níveis de consumo, sem causar impactos adversos no nosso meio ambiente. Eu duvido que isso seja verdade.

De facto, uma vez que começamos a viver claramente para além das nossas capacidades naturais – físicas e económicas – deveríamos reduzir o consumo global e os seus fluxos de poluição consequentes. Isto implica reconhecer que, se aqueles que são verdadeiramente pobres devem ter mais, então aqueles de entre nós que são relativamente mais ricos devem ter menos.


Um estudo da ONU* sugere que “as ondas de calor crescentes e severas, as inundações e os incêndios florestais serão responsáveis por volta de 500.000 mortes anuais até 2030, tornando-se este o maior desafio humanitário enfrentado no mundo”. E mesmo que todos sejam tocados por isso, os mais susceptíveis de serem atingidos serão aqueles com menos capacidade de se manterem – a parcela mais pobre da população mundial. Se eles devem ser ajudados, devemos reduzir o prejuízo que estamos a causar. E, para fazer isso, devemos ter a coragem de mudar a nossa economia e as nossas vidas, agora.

“Para encontrar a simplicidade, o que precisamos é de reflexão, atenção, compaixão e coragem.”

De forma activa e urgente, precisamos de explorar as possibilidades de ter mais simplicidade, de trabalhá-la de maneira prática e diária nas nossas vidas, e precisamos também de uma resistência vigilante para dominar a propaganda do consumismo crescente. Na minha experiência, isso pode ser desconfortável, pois muito da nossa cultura atual está a levar-nos para uma direção oposta. No entanto, esse desconforto não é nada perto das consequências evidentes e catastróficas do nosso fracasso, em relação a mudar as nossas vidas e a encontrar um caminho mais sustentável. Para encontrar a simplicidade, o que precisamos é de reflexão, atenção, compaixão e coragem.


por David Cadman Quacker

* O estudo foi realizado por um grupo de reflexão coordenado por Kofi Annan, The Global Humanitarian Forum – descrito no The Guardian, a 30 de maio de 2009.

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