sexta-feira, 22 de agosto de 2014

Jeremy Narby - Xamanismo e Realidade


  


Jeremy Narby cresceu no Canadá e Suíça. Foi estudante de história na University of Canterbury e recebeu o seu PhD em antropologia na Stanford University. Viveu, por dois anos, na Amazônia Peruana estudando a tribo Ashaninca e a sua metodologia de exploração dos recursos da selva amazônica (85.000 espécies). Trabalha, desde 1989, para a Nouvelle Planete, uma organização filantrópica, na Suíça. Como resultado dos seus estudos e experiências na Amazônia Peruana, escreveu o best-seller "The Cosmic Serpent - DNA .And The Origins of Knowledge" (A Serpente Cósmica - DNA. E as Origens do Conhecimento - sem tradução para o português). 

Infinito - O que a antropologia pensa, actualmente, sobre os xamãs e o xamanismo?

Jeremy Narby - Os antropólogos atualmente dizem muitas coisas diferentes sobre os xamãs. O xamanismo é um dos assuntos que os antropólogos se especializaram em estudar nos últimos 120 anos. Os antropólogos viam os xamãs como psicóticos, charlatões, criadores da ordem, criadores da desordem, intelectuais, tradutores, negociantes astutos, produtores de significados, curandeiros do corpo e da política do corpo e, hoje em dia, como protocientistas, botânicos, zoólogos, mitologistas e médicos da mente.

Infinito -Qual é a sua própria opinião a respeito, já que conviveu e pesquisou, durante dois anos, a tribo Ashaninka na Amazônia peruana?

Jeremy Narby - Acho que alguns xamãs possuem um profundo conhecimento da vida. Eles usam a modificação da consciência para entender as propriedades das plantas, as quais compartilham. Os xamãs sabem que sob a superfície da diversidade da vida há uma unidade oculta.

Infinito - Quais são os meios empregados por estes shamans para a aquisição do "CONHECIMENTO" sobre os recursos naturais que a selva amazônica oferece, a manipulação e o emprego correto dos vegetais no sentido das curas de doenças que são, às vezes, incuráveis pela medicina dita civilizada?

Jeremy Narby - Essa é a pergunta-chave. O que acontece na mente de um xamã que está tendo visões do mundo natural fora de sua cabeça é um mistério profundo. A mente humana ainda está longe de ser compreendida e parece ter capacidades misteriosas que a ciência ainda não desvendou, envolvendo intuição, imaginação, cura e visão.

Infinito - Por favor, fale alguma coisa sobre o CURARE, uma das grandes descobertas dos xamãs para a medicina.

Jeremy Narby - Curare é uma substância que paralisa os músculos, que os caçadores amazônicos desenvolveram como veneno de zarabatana vários milênios trás. Ele mata animais arborícolas sem envenenar-lhes a carne. Na década de 40, os cientistas descobriram que o curare podia facilitar enormemente a cirurgia de abdômen e dos órgãos vitais, porque ele interrompia os impulsos nervosos e relaxava todos os músculos, incluindo os responsáveis pela respiração. Os químicos sintetizaram derivados da mistura de plantas, modificando a estrutura de um de seus ingredientes ativos. Atualmente, anestesistas que "curarizam" seus pacientes usam apenas compostos sintéticos. Há quarenta tipos de curare na Amazônia, feitos de 70 espécies vegetais. O tipo usado na medicina moderna vem do oeste da Amazônia. Para produzi-lo, é necessário combinar várias plantas e fervê-las por 72 horas, evitando-se inalar os vapores fragrantes mas letais emitido pela fervura. O produto final é uma pasta que é inativa, a menos que injetada sob a pele. Se engolido, ele não tem nenhum efeito. É difícil ver como alguém possa ter chegado à receita por experimentação ao acaso.

Infinito - Qual foi o resultado da sua própria experiência com o Ayahuasca?

Jeremy Narby - Ela mudou minha compreensão da realidade. Depois de minha experiência inicial com ayahuasca, eu soube que havia mais na realidade do que os olhos viam.

Infinito - O que lhe revelou, posteriormente, a visão das duas serpentes enormes, ponto central da sua experiência?

Jeremy Narby - Levei quase 10 anos para entender essa experiência. Elas me disseram que eu era apenas um pequeno ser humano. Elas me colocaram em meu lugar. Elas também me mostraram que formas serpentinas gigantescas estavam profundamente enterradas no coração da vida.

Infinito - No conceito da Biologia:
a) O que revelam as inacreditáveis e belíssimas pinturas de Pablo Amaringo sob o efeito da "Mother of the Mother" ou seja, o Ayahuasca?

Jeremy Narby - Vi todos os tipos de elementos de biologia molecular na pintura de Amaringo.

Infinito - b) Espantou-nos um detalhe nestes quadros maravilhosos: a sua semelhança com as antiqüíssimas "TANKAS" tibetanas, com você explica este fator?

Jeremy Narby - É verdade que as semelhanças são espantosas. Acho que isso mostra que há uma espécie de poço planetário de imagens onde bebem os visionários, estejam eles na Amazônia ou no Tibete.

Infinito - Qual o prejuízo causado pelo que você chama de "Rational approach", para os pesquisadores de outras culturas?

Jeremy Narby - Acho que a abordagem racional é muito valiosa. Mas também tem seus limites, particularmente ao estudarem-se fenômenos envolvendo a consciência "não-racional", como o xamanismo do ayahuasca. É como estar no seco tentando entender o que é nadar. Finalmente, a melhor maneira de saber como é nadar é molhar-se.

Infinito - A sua opinião sobre os paralelos feitos pelos pesquisadores Lynn Picknett e Clive 
Prince, entre o CONHECIMENTO adquirido pelos shamans e os documentos e provas a respeito do mesmo conhecimento adquirido pela antiqüíssima civilização egípcia?


Jeremy Narby - Acho que eles estão no rumo certo, mas é preciso mais pesquisa.

Infinito - A se ver a natureza e o DNA possuem consciência? Como chegou a esta hipótese?

Jeremy Narby - Prefiro falar de inteligência em vez de consciência. É importante usar as palavras com cuidado. Por inteligência me refiro à origem da palavra: interlegere, escolher entre. Sim, parece ser a capacidade de tomar decisões, bem dentro das células, até mesmo no nível das proteínas individualmente. Geralmente, a inteligência requer um cérebro. E os cérebros são feitos de células. Mas há casos claros de células individuais que se comportam como se tivessem cérebro. Mais uma vez, é necessário mais pesquisa quanto às capacidades de tomada de decisão das proteínas, células e organismos vivos. A natureza é claramente não apenas um fenômeno físico-químico. Como eu cheguei a essa hipótese é toda a história do livro.

Infinito - Qual a sua opinião sobre o uso de alucinógenos na conquista do "Conhecimento"?
Acha válido o seu emprego? Por que não se usar e aperfeiçoar os métodos naturais e sem efeitos colaterais, através dos quais se chega aos mesmos resultados obtidos com os alucinógenos?

Jeremy Narby - Plantas alucinógenas podem ser atalhos para o conhecimento, se usadas prudentemente. Mas elas são substancias que alteram a mente e apresentam riscos. Qualquer um que prefira usar métodos como respiração ou percussão que levem a resultados semelhantes deveria ser incentivado a fazê-lo. Eu nunca incentivo ninguém a usar alucinógenos. 


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