domingo, 3 de janeiro de 2021

a Realização

 



Existe um momento na vida em que nos afundamos. E a primeira regra do campo é - perante o buraco  saltar.

É ai que deixamos de saltar, pulamos directamente no charco, movemos nos, esbracejamos, gritamos, escondemo-nos, enfim....pulamos no silencio sepulcral. 

Fechado um capitulo da nossa historia, deixamos emergir o zombie, o golem. 

A partir dai a identidade dissipa-se. 

Tudo se torna estranhamente familiar e bizarro. A floresta acolhe-nos mas continuamos sem saber sair dela.

O confronto que é o que precisamos para crescer, para ir adiante, é evitado, dissimulado, expurgado. Assim sendo remetemos-nos as eternas adolescencias do ser, do perceber, do filosofar, do inquirir, mas completamente perdidos do ser interior dentro de si. Deixamos a luz que tinhamos, que nos fazia caminhar e ter um rumo.

E não saltamos porque temos medo. Medo que corra bem e medo que corra mal.

E se correr bem....que farei com este velho fraco pouco confiante que levamos do nosso lado direito?

E se correr mal, e é aí.....

Ao não saltarmos escolhemos a segunda opção.

A opção -vegetar.

Deixa-se de tentar, finge-se mudar, vive-se o que se pode sem nunca se poder dizer Viver com letra grande.

Vamos nos afundando. Sem luz, apenas indo.

Esse afundar na lama da nossa falta de coragem, esboça-se então em toda a nossa vida, como um vírus que vai infectando célula apos célula, submetendo tudo para um esboço mental ou mesmo no vazio.

Já não se espera nada.

Já não se vive nada.

Vai-se esperando, conjecturando, falando, como o velho do Restelo.

A solução para o mal, é voltar lá....não ao passado, não ao que foi, mas ao momento da escolha.

E escolher saltar. 

O tempo não volta, mas a vida interior sim. E com ela a frescura que tínhamos dentro de nós.

Deixaremos o eu lamentador, para o Eu Vivedor. 

Na cruz morre a testemunha para ressuscitar num ser mais belo, mais poderoso e mais luminoso.

Por fim voltamos a luz.....

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