sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

Cinema, Tv e Esoterico - conversa com Antonio de Macedo


ESTELA - O António de Macedo é uma figura bem conhecida, como cineasta. E também como autor de romances de ficção científica, como um dos fundadores da SIMETRIA (http://simetria.esoterica.pt/), e organizador dos Encontros de Ficção Científica & Fantástico de Cascais, etc.. Tem tido intervenções na rádio e na televisão, e além disso é professor. Por isso, gostava que nos falasse ao menos de algumas das suas longas metragens, marcos importantes no cinema português.

ANTÓNIO DE MACEDO - Nem sei por onde começar - talvez pelo fim! Como consequência de um sistema corrupto de apoios financeiros do Estado ao cinema português, vulgo "subsídios",


com uma legislação armadilhada para favorecer o "clube dos favoritos" do qual estou obviamente e saudavelmente excluído, há quase dez anos que sou sistematicamente ostracizado e impedido de filmar... O meu último filme de longa-metragem, *Chá Forte Com Limão*, de 1992-1993, é dedicado a Karen Blixen, autora dos extraordinários *Sete Contos Góticos*, e na aparência é uma "ghost story" victoriana (passa-se em 1870). No fundo é muito mais do que isso, claro, o macabro e os espectros são só "cenário", o filme vai descrevendo sucessivas etapas de geração-degeneração-regeneração, são etapas iniciáticas de quem foi "ao lado de lá" e ao voltar a este mundo descobre que este mundo é só esquecimento, e que a verdadeira memória é a memória da Casa do Pai, cuja luz ofusca todas as inúteis frivolidades dos grandes-pequenos dramas terráqueos.

ESTELA - O António de Macedo também é um homem da televisão. Nota muita diferença na televisão para a qual realizou programas e na que se faz agora?


ANTÓNIO DE MACEDO - Uma diferença abissal! Televisão, agora, não faço: só vejo, e pouco; quando comecei a fazer filmes e programas para TV foi nos anos 60 do século XX, ainda era a preto-&-branco e a TV era um mar sem ondas quando comparada com os alucino-psico-frenesins dos dias de hoje. Nos anos 60 limitei-me a executar uma encomenda de dois telefilmes de 12 minutos cada, um sobre o poeta Afonso Lopes Vieira e outro sobre Fernão Mendes Pinto, além de mais uma série de 12 pequenos filmes semi-ficcionados sobre a prevenção dos acidentes no trabalho. A partir de 1974, com a liberalização democrática e a abolição da censura, fiz dezenas e dezenas de telefilmes documentais sobre o que se convencionou chamar, na altura, "filmes de intervenção": documentos com uma duração que variava entre os 25, os 40 e os 50 minutos, abordando tudo o que de escaldante se estava a passar por esse país fora, por exemplo: ocupações de terras e de fábricas pelos trabalhadores, manifestações sócio-políticas, expressões espontâneas de teatro popular em aldeias longínquas, a independência das ex-colónias, velhas profissões em vias de extinção, cooperativas de tudo, inclusive de ópera, aparecimentos de OVNIs em Portugal, séries sobre a protecção à criança, recuperação de deficientes, colecções de bonecas, informação científica, programas sobre teatro profissional, etc. etc. - A partir dos anos 80 as encomendas da RTP foram rareando e fixei-me mais nos filmes de longa-metragem.
 Quanto à TV de hoje... realmente, não tem nada a ver com a desses saudosos e agitados tempos. Hoje privilegiam-se os "reality shows" e os "big Brothers" numa curiosa inversão do "sentido" do espectáculo: os principais intérpretes e intervenientes já não são actores (excepto em intermináveis telenovelas que estão sempre a serrar o mesmo presunto), mas os próprios espectadores que saltam alegremente para o "lado de dentro" do pequeno ecrã e vão expor as suas mazelas domésticas ou exibir reais ou supostos dotes histriónicos. Perdeu-se e perverteu-se o lado "sacro" do mistério da "arte do espectáculo" para ficar apenas a vulgaridade e o super-efémero. Ou seja, em vez do "fogo" criativo", que dá calor e luz, só ficou a fumaça, que engasga e cega...


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