sexta-feira, 19 de abril de 2024

As Palmeiras

 


Estou aqui e nao vejo as palmeiras bem em frente a mim.

Nao vejo a marina, nem o mar, nem as pessoas que passam.
Eu apenas vejo os meus anseios, as minhas tristezas, os meus medos, a minha solidão e este vazio.
E sinto o vento, como um tempo que passa, e aqui permaneço neste banco só mesmo passando centenas de pessoas por mim.
Quando aqui venho penso em como o pensar nos limita e nos encerra num cubiculo de uma jarra de expectativas.
Procuramos qual folha de acetato preencher o mundo com esses desenhos, mas quer a realidade que o desenho se apague ficando apenas uma folha esborratada, como alguem que se perde num caminho sem tabuletas, nem letreiros nem direcções.
Ficamos ai absurdos, nos desvaneios das camionetas e das salas de espera dos aviões, porque o real não procuramos apenas o esboço emocional que sonhamos encontrar...
Lembramos o passado porque algures nos sentimos felizes, porque o passado é seguro
Olhamos o futuro porque queremos tudo o que nao temos.
E assim esquecemos o presente.
O agora.
Olho agora as palmeiras... parece. Tao pequenas e insignificantes perante o meu vazio interior.
Nos fugimos do aqui e agora porque o aqui e agora doi.
Doi ainda mais quando o futuro que sonhamos se torna hoje e o hoje nao tem nada do que sonhamos.
Onde esta o castelo e a princesa?
Em que rua fica o encontro sonhado e os beijos que nao demos?
Em que momento a misericórdia divina nos escutou e a nossa vida se abriu como um girassol?
Olho uma criança que passa no seu patinete.
Sem passado e sem se preocupar praticamente com o futuro, ela vive intensamente o agora.
Porta se como criança, chora, faz birra, cai no chão e de repente ja ri, brinca, sorri.
Tudo nela é o que é
Nao criou mascaras nem fobias nem medos nem anseios
..nem descobriu ainda a solidão avassaladora que preenche o ser humano.
Quando estou aqui eu nao estou aqui.
As crianças os velhos e as outras pessoas todas passam... eu nao sou nada para elas e elas nao sao nada para mim
Aqui sem chorar choro, sem sofrer sofro e entendo como a minha vida é igual a este calçadão.
Se eu nao as vejo (as palmeiras ), elas vêem me.
Estao aqui ha anos, algumas decadas, a ver passar esta gente, estes carros, o fumo e a sujidade, os beijos e os gritos, o nada e o tudo.
Entendo as, testemunhas do tempo , aniquiladas de desejos apenas existem.
Por fim vejo as.
Elas debruçam se sobre o vento e sussurram me - a felicidade é o que existe quando deixamos de pensar.

Sem comentários:

Enviar um comentário

25 de Abril

 Parece que Alzheimer invadiu a mente de grande de parte dos portugueses, tendo muitos repudiado o dia da Liberdade e aplaudindo ditadores e...