terça-feira, 31 de maio de 2022

As memórias

 Se cada minuto tem 60 segundos, se cada hora tem 60 minutos, um dia tem 24 horas e um ano 365 dias, totalizando ao fim de um ano deveriamos ter milhões senão triliões de memorias do nosso dia a dia.

Contudo o nosso dia a dia parece quase um fantasma quantico, o que comemos ontem, o que fizemos nas horas que passaram a semana passada, os eventos dos anos que foram, tudo isso parece-se desvanecer.

Fica apenas um resto.

No entanto um resto que lembra aquelas saquetas de Sumo Tang, em que pomos em 2 litros de agua e temos um optimo sumo.

Mesmo as memorias mais ou menos de cada dia ou cada ano, vão desaparecendo apenas ficando aquelas mesmo boas, quer seja pela positiva ou negativa.

Alguns neurocientistas dizem que nós inventamos memorias. Ou melhor, o nosso cérebro edita as memórias que temos. Talvez seja como o computador que guarda no formato que melhor pode, reduz tudo ao minimo indispensavel.

De qualquer das formas passamos muito pela vida e de repente olhamos para tras e não temos ideia do que fizemos, comemos, bebemos, vimos.

Passamos a vida em branco, seja no passado como no presente.

Mas porque é que isso acontece?

Claro que o nosso cérebro guarda o mais importante e faz-nos focar no que é fulcral no momento.

Mas a maior razão é que as nossas vidas são feitas de nadas.

NADAS.

Lembram aquele jogo do Super Mário em que saltávamos de nuvem em nuvem, de plataforma em plataforma.



Enchemos as nossas vidas de tantos vazios, de futilidade, de trabalhos, estudos ou dias passados entre filmes, livros etc, de preocupações vãs,  a tal ponto que somos inundados por grandes vazios.

De facto a nossa sociedade é uma especie de alienigena que se retroalimenta, temos uns quantos que apenas parasitam e mandam, e a maioria que vive uma vida de inutil desperdicio.
Nunca fomos ensinados a viver.
Sempre a sobreviver, a sermos servos, quer fosse do Deus do antigo Testamento, quer da maquina do estado.
O objectivo da nossa educação sempre foi - inculcar o maximo de conhecimentos para depois trabalharmos e SERMOS alguem.

Que ridiculo não é?!!
Ser Alguem.
É como se nos incutissem que estamos vazios e precisamos de trabalho, posição social, certas coisas, para Sermos.

Faz lembrar aquela velha lengalenga - quando descobri todas as respostas , a vida vem e muda as perguntas!

Tão ridiculo passarmos tanto na vida a tentar fazer algo que nem queremos fazer, e a resistir a sermos quem somos desde sempre.


E sem qualquer motivo lembrei-me agora que na casa da minha avó em Alhos Vedros, tinha um baldinho verde, com um boneco estragado de corpo de pano, dois aviões um deles uma especie de replica de boing e o outro especie de nave espacial, um carrinho verde e um outro carrinho. E brincava imenso nas escadas.

Qual a importancia de me lembrar disto???
Que valor tinham aqueles brinquedos velhos?

Mas ainda hoje lembro onde guardava o baldinho na despensa quando tinha uns 4-5 anos.

E parecem me hoje, que estas memorias são mais verdadeiras que tudo o que tenha feito no dia de hoje e tudo o que sequer tenha feito a semana passada.

Talvez só tenhamos memoria dos momentos em que fomos, em que estivemos realmente presentes na nossa vida, para o bem e para o mal.




sábado, 21 de maio de 2022

Sonhos ou Sonos?

 Será o sonho que sonho, que procuro, apenas uma limitação do ego?
Será que o sonho nos fecha num campo de irrealidade em que ficamos limitados a algo ''extremamente definido'', procurando algo ''extremamente definido'', no fundo procurando apenas algo que nos tape o buraco, ou melhor algo que achamos que vai tapar o buraco que temos dentro de nós?

E não será esse algo, apenas um reflexo egóico do buraco, algo como um chocolate que nos consola e não o nosso maior e melhor potencial ?!

Sonhamos com algo que queremos que nos tire da solidão, da sensação de pequenez, de pouco valor, de vazio, de não merecimento. 
Os meus sonhos dividem-se em duas categorias - sonhos de poder, em que me vejo rico, poderoso, em que posso  envaidecer-me junto dos que conheço, aos do meu passado que me magoaram e me fizeram sentir pequeno, indefeso e fraco, como uma chapada de luva branca...... ou então são sonhos de alguém, de uma mulher  linda, baixa, amorosa, perfeita nas suas imperfeições, uma espécie de idílio utópico, um Éden perdido e ancestral.

E ao olhar isto, ao sonhar isto, ao procurar isto, apenas tenho olhos para isto.
Em cada cidade que vou, cada avenida que percorro, cada aventura, eu apenas procuro isso.

E isso nunca vem...

Estarei eu a limitar-me?
Estarei eu no fundo a amar e a procurar apenas uma fantasia??
Estarei eu a perder o resto, a deixar caminhos, a fixar os olhos numa nuvem ilusória e sem ver e apreciar todo o horizonte???

Mas o buraco, o buraco está lá!!
Como posso olhar para outra coisa qualquer se o buraco está cada dentro, assim a ressoar, a remoer, a zumbir a cada momento, a doer e doer e doer?

Doi tanto que apenas quero ''aquela'' cura....e por essa cura, rezo, faço rituais, viajo, espero, .....

Sinto que devo olhar o buraco.
Olhar, vislumbrar, apreciar os meus passos, as minhas dores, os meus caminhos bons e menos bons.
Talvez deixar de sonhar!

Permitir o buraco viver.
Permitir estar, sem o grito da ilusão que vem do buraco e que me diz tudo o que sinto sobre mim, e estar sem a nuvem do sonho que espero que venha para tapar o mesmo buraco.

Caminhar na senda dos dois lados, sem me vitimizar, sem odio, com auto-amor, apreciando cada passo e não o rio das ilusões boas ou más, que rodeiam as aguas do meu ser.



Saboteur

Na nossa vida, o maior de todos os sabotadores somos nós mesmos. Uma parte de nós deseja brilhar, ser quem é,  triunfar, mas outra parte tem...