Barcelona é uma cidade real e sem máscaras.
Temos que ver sempre a cidade
real.
É difícil ver a cidade real.
E quando falo da cidade falo de objectos, de pessoas, de histórias, de nós mesmos.
Vemos sempre o que os nossos medos, projecções, ilusões, conceitos e preconceitos, expectativas e desilusões querem.
Somos escravos do nosso próprio pensamento sobre o objecto real.
Há uma profundidade no real que é deturpada a cada momento, a cada instante, por cada um de nós.
Revestimos os sítios, pessoas, eventos e acontecimentos de uma teia, qual filigrana de emoções, sensações, preconceitos, julgamentos, ideias, medos e ansiedades, passado e projecções futuras.
Barcelona não tem passado, nem futuro, não é sim ou sopas.
É o que É.
É na Entrega, na redenção ao Real que permitimos que o Real se manifeste na nossa vida, por vezes até de uma forma quase irreal.
Despir a roupagem que projectamos para um dia na cidade permite um alivio.
Nada daquilo é o que pensaste, nem tu és o que pensaste, encontras-te livre de ti mesmo, sendo apenas o mais puro Tu, o que Realmente é Real em ti.
Esta falha projectiva permite aceder a esse alivio.
Quando uma cidade ou algo nos desaponta ou nos alegra, é sinal importante que não vivemos no real.
Não despimos a máscara com os óculos especiais da nossa projecção interna!
É neste aprender a ver o Real como beleza, tanto no que chamamos belo como no que nos desaponta, que relembro Agnes Varda nos seus documentários. Ela que era uma apaixonada pelo real.
Jeff Foster diz que temos de parar de fugir do Real e Realiza-lo.
Frank Kinslow dizia-me -
Pára de tentar miúdo, sê apenas quem tu és no mais de fundo de ti mesmo.
Quando o Real nos toca tudo é beleza.
Porque se algo em nós e fora de nós ainda não é belo, então não é real.
Barcelona, 26 de Outubro 2019